A mídia tratou com a discrição cabível os funerais do ex-prefeito Celso Pitta.
Ele morreu na noite de sexta, aos 63 anos.
Os noticiosos lembraram a nefasta passagem de Pitta pela Prefeitura paulistana.
Requentaram por alto o que já se sabia – e vida que segue.
II.
Para este modesto escriba, que o entrevistou várias vezes, especialmente em suas andanças como alcaide da cidade, Pitta ainda é uma personagem a ser revelada – no mínimo, para que se entenda um pouco melhor os meandros da política nacional.
Quantas histórias poder-se-iam contar por trás da história de vida do jovem negro, que estudou no Exterior e se transformou em promissor executivo das empresas da família Maluf até enveredar pela vida pública e se enredar em tramas de escândalos e corrupção?
III.
Na eleição municipal de 96, Celso Pitta apareceu como o nome de consenso entre as duas correntes hegemônicas do malufismo – uma comandada por Calim Eid e a outra por Salim Curiati. Ambas arvoravam-se a vez de “fazer” o sucessor de Maluf, então em fim de mandato como prefeito paulistano.
Pitta emplacaria o Tércius da ocasião – e, sempre sob a tutela do grande líder, acomodaria os interesses de Paulo Maluf e sua turma de chegar ao sonho magno da Presidência da República.
IV.
O engodo do Fura-Fila encantou as massas – e Pitta se fez o primeiro negro a ser eleito de São Paulo.
Por sua rala experiência política, os próceres do malufismo e o próprio Maluf imaginaram tê-lo sob controle, mesmo à frente da Municipalidade.
Ledo engano.
V.
Logo nas primeiras semanas perceberam o equívoco.
A ‘criatura’ ganhara vida própria.
Com apetite voraz, buscou rumos próprios – e igualmente tortuosos.
Aboletara-se no Poder, com gosto, ambição e descontrole.
VI.
Mais do que depressa, o ‘criador’ saiu de cena.
Esqueceu a frase de efeito (“Se Pitta não for um bom prefeito, nunca mais me candidato a um cargo público.”) e tratou de salvar o que pôde, em termos de prestígio político, da catástrofe administrativa que se anunciava devastadora.
E foi.
VII.
O jogo do Poder é implacável.
Pitta nunca foi o que lhe fizeram acreditar que fosse.
Deslumbrou-se.
Até dentro de casa fez inimigos – é célebre o depoimento da então esposa Nilcéia ao Globo Repórter denunciando as falcatruas da gestão Pitta, com seus novos parceiros.
Veio a derrocada.
Que ele nunca assimilou…
VIII.
Morreu precocemente, acreditando-se inocente.
Sem entender que ele próprio, pelos caminhos que escolheu, foi vítima e algoz.