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Malpensa

Como sempre quando viajo, levo comigo um bloco de anotações – resquício do velho repórter vira-lata que fui e, desconfio, sempre serei.

Na verdade, gosto de registrar ideias que surgem para eventuais textos que, um dia, imagino escrever.

Não obedeço qualquer disciplina para meus rabiscos.

O que não representa grande novidade.

Sou absurdamente caótico em tudo o que faço – e até no que deixo de fazer.

Neste final do ano, não foi diferente.

Lá estavam, em meio às minhas tralhas, o bloco e a caneta esferográfica.

A novidade foi que, desta vez, os dois voltaram intactos.

Não fiz um registro sequer em minhas andanças de 10 dias pelo norte da Itália – Milão, Como, Bergamo e arredores.

Não faltaram motivos e personagens; lugares e sensações.

Sei lá! Sei que nada escrevi.

Talvez fosse a arrepiante expectativa de enfrentar as nevascas e as temperaturas negativas que, embora amplamente anunciadas por aqui, felizmente não aconteceram naquela parte da Bota naquele período em que, por lá, perambulei.

Talvez fosse a indescritível beleza do Duomo ou a brancura dos Alpes a fatigar alma e olhar impactados à janela do avião, prestes a aterrissar no aeroporto de Malpensa.

Talvez fossem os dedos congelados pela incorrigível mania de perder as luvas a cada vez que paro para tomar um indispensável ‘expresso’.

Talvez…

Talvez naqueles dias que agora transformo em suaves lembranças, eu me sentisse como hoje me sinto: apenas um homem só. Sem eira, nem beira e assunto para tocar o blog e a vida.

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