— Sou uma bruxa!
Não garantiu de papel passado e timbre oficial.
Mas, foi o que disse a mim e ao grupo de turistas brasileiros que a acompanhavam pelas ruas encantadas de Budapeste, naquela manhã ensolarada de primavera na Hungria.
Empenhados que estávamos em fotografar a tudo e a todos, ali pelas margens do Danúbio, não demos lá grande atenção ao comentário gracioso que a jovem guia fez em louvável portunhol para que brasileiros e argentinos lhe entendesse.
E, claro, a entendemos mesmo quando insistiu no gracejo:
— Dizem que todas as mulheres do mundo são bruxas. Há alguma verdade nisso. Temos, sim, encantos e magias. Mas, acreditem, aqui, onde nasci e vivo, essa é a fama que nos persegue.
Rimos da observação. Mas, não lhe demos trela.
Como disse, nosso negócio era clicar a tudo e a todos.
As cidades de Buda e Peste, cortadas pelo Danúbio, oferecem cenários fascinantes.
Desconsidero essa historinha de bruxas, reconheço que estamos em boas mãos.
Olga – vou chamá-la assim, pois desisto de tentar compreender seu nome com tantas e tamanhas consoantes que sequer os 16 sons de vogais do idioma húngaro conseguem transformá-lo em algo minimamente compreensível aos meus ouvidos…
Pois, então, Olga nos fala que Buda é a área nobre, mais residencial, e Peste é “onde trabalhamos”. Enumera os monumentos, lembra os tempos tristes do domínio comunista e que a Princesa Sissi (que deu origem a uma série de filmes com Rommy Schineider) era amada pelo povo, pois preferia viver ali, junto aos campesinos, do que ao glamour da corte de Viena, onde vivia o marido, o poderoso Francisco José, rei do Império Austro-Húngaro.
De volta ao Brasil, conto a viagem aos amigos que me visitam. Mostro as centenas de fotos que fiz do passeio inesquecível – e, para provocar as mulheres presentes, conto que Olga nos revelou que era uma bruxa.
Eles riem, divertem-se. Comentam:
— Que bobagem!
Mesmo assim, curiosos, me pedem para que mostre a tal bruxinha.
Repasso, uma a uma todas as imagens que fiz naqueles dias.
Eu a fotografei várias vezes, junto aos monumentos, orientando o grupo. Junto à maquete da igreja de São Venceslau, o padroeiro da Hungria.
Reparem…
Incrível!
Olga não aparece nesta e em nenhuma outra foto.