Ministro, o motorista do taxi que me leva em plena manhã de segunda-feira ao Memorial da América Latina, está surpreso.
O trânsito de Sampa flui tranquilamente – o que lhe deixa intrigado.
–Vá entender essa cidade! Na manhã de sexta isso aqui estava um caos. Ninguém andava. Hoje, olha só que belezura!
Concordo com o ele.
Trata-se de uma manhã sui generis também para mim.
Ainda pouco sonhava que estava em minha casa de infância a procura de uma bola de capotão que minha mãe escondera não sei onde para que não quebrasse nenhuma vidraça na tradicional ‘pelada’ de rua.
Acordei com os grunhidos do despertador.
Não titubeei. Pulei da cama. O amigo Paulo me pediu que o representasse no XVI Celacom – Colóquio Internacional Sobre a Escola Latino-Americana de Comunicação. Lá, palestrantes ilustres vão discutir a presença da TV na vida de cada um de nós sob a solene temática “Televisão na América Latina: 60 Anos de Aculturação, Mestiçagem e Mundialização”.
Enquanto Ministro dribla os primeiros trechos de lentidão nos arredores do Minhocão que o Kassab quer derrubar, fico pensando como era São Paulo antes que a TV monopolizasse atenções e o dia-a-dia de todos nós.
A cidade era uma aldeia; pouco mais que isso.
Vocês podem não acreditar.
Mas, as pessoas se falavam entre si. Davam bom dia quando se viam pela manhã e boa noite ao recolherem as cadeiras das calçadas quando se entravam para dormir o sono dos justos.
O rádio nos trazia o mundo, as canções e as novelas radiofônicas.
As luzes tinham um tom amarelado – e lá pelas onze da noite ouvia-se o ruído dos últimos bondes.
Nada contra a TV, mas desconfio que tínhamos uma vida mais harmonioza.
Éramos felizes, e não sabíamos.
Ministro me resgata deste túnel do tempo.
— Chegamos, doutor!
Não sou doutor, amigo.
No meu eterno sonhar, mesmo de olhos abertos, continuo o garoto sardento atrás da bola de capotão que ganhei quando completei o ábum de figurinhas que vinham nas balas Futebol.
** FOTO NO BLOG: Lucas Lima