A Espn Brasil mostrou ontem uma reportagem sobre a Cidade de Lata que existe nos arredores de Joanesburgo. Lá moram mais de 10 mil pessoas em habitações improvisadas, de alumínio, que mais parecem um container do que propriamente uma moradia.
Para lá foram recolhidos moradores de rua com o objetivo, segundo informou a reportagem, de esconder essa legião de desvalidos. Assim os turistas que visitam a África do Sul, neste Mundial, não seriam confrontados com tamanho grau de miséria e abandono.
Sempre segundo a reportagem, era para ser um abrigo temporário. Mas, desde 2007, os moradores estão ali, largados à própria sorte – ou, melhor seria dizer, azar.
— É o quarto Natal que passaremos aqui, disse uma das moradoras.
Indignada, ela lembrou que parte da verba destinada à construção dos estádios deveria ser destinada à construção de moradias minimamente dignas.
Outro morador revelou-se indignado.
Os olhos do mundo estão voltados para os jogos de futebol na África do Sul.
— E, para nós, ninguém olha!
À exibição da reportagem, seguiu-se amplo debate, entre os jornalistas do programa Fora de Jogo, sobre o tal legado de eventos de porte de um Mundial ou de uma Olimpíada para países como África do Sul e, inevitável, Brasil, já definido como sede em 2014 e 2016.
É para se pensar criticamente sobre a questão. Sem o oba-oba de praxe, mas também sem o ceticismo dos derrotistas.
Às reflexões, aliás, acrescento a definição do historiador José Sebatião Witter, em seu livro Breve História do Futebol Brasileiro:
“Contrariamente à ideia bastante difundida, o futebol não se situa à margem dos grandes problemas da sociedade, não constitui um espaço reservado. Pelo contrário, em torno dele estão presentes os interesses econômicos consideráveis, em que se confrontam ideologias e em que se manifesta a política nacional e internacional. O futebol é um espelho dos problemas do nosso tempo.”
** FOTO NO BLOG: Viviane Jobim