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Saudoso Adoniran

Naquela noite, o pai chegou com uma surpresa para Tchinim, “o caçulinha da família”, como se dizia naqueles idos dos anos 50.

Era um bolachão preto, um 78 rotações, com uma canção de cada lado do disco.

Tchinim gostava das duas. A que fez mais sucesso foi “Saudosa Maloca” – e o menino se punha a imaginar que talvez a tal cena da demolição pudesse ter acontecido por ali, naqueles antigos casarões abandonados do Cambuci, bairro onde ele morava.

A outra música também era divertida. Chamava-se “Samba do Arnesto”.

Arnesto que, dizia a letra, morava no Brás e não estava em casa quando os amigos chegaram.

O menino ouvia aquela história e desconfiava que talvez seu Tio Nininho pudesse conhecer o tal Arnesto, pois ele sempre ia a cantinas italianas que ali existiam.

Afinal, o Tio dizia que tinha muitos amigos lá.

O tempo passou, como só e acontecer e passar.

Tchinim deixou de ser Tchinim.

Cresceu.

Virou um rapazote que amava os Beatles e os Rollings Stones, além de balançar o esqueleto ao som do pessoal da Jovem Guarda. Foi por essa época que se deu conta: não se ouvia mais aquelas canções e outras tantas do gênero, que tanto o emocionara quando criança.

Entendeu, então, que os sambas macarrônicos, com temáticas cotidianas e forte sotaque paulistano eram – e continuavam sendo – a trilha sonora da sua vida. Nesse universo mágico, de gente simples e sincera, sentia-se mais à vontade, entre os iguais – e que efetivamente encontrava consolo para eventuais dores e ais.

Sentiu um baita vazio – e uma inexplicável saudade.

Desconfio que não fosse só ele. Porque, anos depois, as canções e os intérpretes (Os Demônios da Garoa) reapareceram, com força total.

Uma delas (“Trem das Onze”, na voz de Gal Costa) chegou a ser a mais tocada em um carnaval do Rio Janeiro – galardão dos galardões para um sambista de São Paulo.

O sambista de São Paulo – há quem diga que seja o único autenticamente paulistano, embora fosse nascido em Valinhos – chamava-se João Rubinato. Mas, de resto, é conhecido por todo o Brasil como Adoniran Barbosa que hoje, se vivo fosse, completaria 100 anos.

100 anos de Adoniran!

Tchinim, se bem me lembro, deve andar pela casa dos 60.

É, meus caros: o tempo não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém.

** Pré-lançamento do livro
MEUS CAROS AMIGOS –
Crônicas sobr jornalistas,
boêmios e paixões (foto)

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