A senhora que cuida lá de casa resolveu por ordem na bagunça do quarto onde trabalho – e estão livros, discos, recortes de jornais, recuerdos de Ypacaraí e toda espécie de tralha que, imagino, me servirá de base e/ou inspiração para textos que, juro, escreverei um dia…
Sei bem – e a entendo.
Ela quis ser eficiente.
Só não sabia – aliás, ninguém em sã consciência poderia supor – que aquela era uma bagunça organizada. Sob a aparente hecatombe das pilhas de papéis e dos amontoados de coisas, onde até um violão com as cordas arrebentadas resiste bravamente à espera do talento que nunca tive, eu me virava bem com plena noção de como encontrar o que me interessava no momento em que me interessasse.
Saí cedo do trabalho, com a idéia fixa de aproveitar o fim da tarde de ontem para um cochilo reparador da semana que não foi fácil. Ao chegar em casa, diante da antevisão do paraíso em que se transformou o escritório, não houve outro remédio para mim senão enfrentar a dura realidade de esculhambá-lo tudo outra vez.
Foram horas de árdua tarefa – bagunçar também é uma arte. Perdi o Jornal Nacional e só vi o fim da novela (A tal da Clara está fazendo gato e sapato do pobre Totó). De tão extenuado que fiquei, dormi em meio ao Globo Repórter. Ou seja, lá se foi a minha noite de sexta-feira…
De bom mesmo, é que encontrei, ao acaso, um quase poema anotado numa velha agenda, esquecida sob uma velha Antologia da Língua Portuguesa:
O luar
Não deixa rastro.
Só silêncio.
E saudades.
Pois é, meus caros, de tudo, salvou-se a poesia…
*** PRÉ-VENDA do livro Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões:
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