Quando a viu chegar pela primeira vez à Redação, Almeidinha, o último dos românticos do jornalismo nativo, tremeu na base e desconsiderou, no ato, a presença de todos que estavam na ampla sala de piso assoalhado e grandes janelões para a ruidosa avenida daquele tradicional bairro paulistano.
Viajou na maionese de trôpegos amores e decretou para si mesmo:
Fim do martírio. Ali, onde ele era o rei das edições especiais e dos ‘fechamentos’ fora de hora, ela e só ela poderia sua rainha.
Por isso, não teve dúvida em fazer ressoar pelos cantos e bordas das velhas paredes, o conhecido bordão:
–Bela espécie…
Alguns passos e lá estava o caudilho das notícias a recepcionar, como a uma princesa, a nova estagiária.
— Muito prazer, meu nome é Amarílis – retribuiu a moça de gestos contidos e sorriso tímido.
Era pouco mais do que uma menina e já tinha aos seus pés o encantamento do veterano secretário de Redação.
A bem da verdade, não era preciso muito para que Almeidinha enroscar-se entre a glória e o desespero de romances impossíveis – diga-se, inclusive, que alguns só existiram mesmo na pródiga imaginação do próprio.
Não foi exatamente este o caso de Derenice (assim mesmo com d e e), a última das encrencas. Chegaram mesmo a dividir as escovas num quarto de pensão ali, no Sacomã.
Não que tenha durado muito – ano e tanto, se tanto.
A morena taluda era do barulho.
Fazia e desfazia, e o pobre jornalista apaixonado fazia vistas grossas. Até porque, como dizia o grande Zé Armando, colunista social e profundo conhecedor da alma humana, o quinhão que lhe sobrava, no rala e rola, já estava pra lá de bom para a lata e a estampa do amigo.
Um dia, Derenice foi de vez.
E o Almeidinha ficou de dar dó, mais solitário que um paulistano.
Pior: tanto tempo depois, e ele não conseguia esquecê-la…
Até aquele começo de tarde quando teve a antevisão do paraíso ao ver Amarílis chegar…
* AMANHÃ CONTINUA…