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Uma noite em setembro de 1950

Que dona Hebe Camargo me perdoe. Mas vou cometer a indiscrição de revelar aqui o real motivo pelo qual ela, por decisão própria, não participou da primeira transmissão da televisão brasileira em 18 de setembro de 1950.

A então Moreninha do Samba – isto mesmo, Hebe era morena – era uma das intérpretes preferidas de Assis Chateaubriand, jornalista, empresário, idealizador e principal responsável pela implantação da TV no Brasil.

Há quem diga que ele a convidou pessoalmente para, na ocasião, ser a primeira cantora a se apresentar na estreia do novo veículo de comunicação. Inclusive Hebe participou da caravana de artistas, políticos e personalidades que Chatô reuniu para, seis meses antes, assistir ao desembarque dos equipamentos importados dos Estados Unidos que permitiriam a primeira – e milagrosa – transmissão.

Milagrosa, sim. Porque estudo realizado por técnicos americanos, a pedido do próprio Chatô, desaconselhou a iniciativa. No laudo dos gringos, o Brasil ainda não tinha condições de receber tamanha modernidade. Além do que a TV americana surgiu a partir da experiência de técnicos e artistas importados da indústria cinematográfica de Hollywood, sucesso em todo mundo.

Por aqui não havia nada que chegasse a milhas dessa vivência.

Daí que, creio, não seja exagero dizer que a TV Tupi de São Paulo nasce da teimosia de Chatô e da genialidade dos pioneiros da TV – quase todos, assim como Hebe, oriundos dos programas de rádio; que, aliás, naquele momento vivia sua fase áurea.

Pois, voltemos à questão inicial.

Hebe literalmente deu o cano na inauguração da TV Tupi. Justo ela que estava escalada para cantar o Hino da TV. Foi substituída, à última hora, pela bailarina de Flamenco e cantora Lolita Rodrigues, sua amiga.

Para todos os efeitos – e durante muitos anos – circulou a notícia de que a Moreninha do Samba estava adoentada no dia.

(Apenas para a rapaziada, vale lembrar que tudo era ao vivo e em preto e branco, e que não existia o videotape.)

No entanto, como nos contam os jornalistas Dado Carvalho, Ana Rachel Salamedo e Juliana Domingues no livro-reportagem “Satyrizando a Praça Roosevelt”, Hebe desmentiu o caso e disse que não ficou doente coisa nenhuma. Ficou foi desanimada com o tal hino. Achou a letra ruim. Sem contar que havia conhecido um rapaz – seguramente mais interessante que os versos da canção – e iria se encontrar com ele justamente naquela noite, no mesmo horário da transmissão.

O encontro aconteceu ali, na Praça Roosevelt.

Aliás, penso que talvez seja este o único mistério ainda a ser revelado na vida da Diva da TV.

Será que ela se arrependeu da escolha?

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