Desde que o mundo é mundo é assim.
O futebol não tem segredos.
Vence quem faz mais gols – e o resto é chororô.
Simples e reto – aliás, como as coisas sempre deveriam ser.
O Sabiá da Crônica, mestre Rubem Braga, é exemplar na definição de um tempo que já não mais existe. O tempo em que as geladeiras eram brancas e os telefones eram pretos.
Por que todo esse trelelê?
Explico.
O menino Dentinho abusou do saber futebolístico no jogo de ontem entre São Paulo e Corinthians.
Fez umas graças com o pé sobre a bola, acompanhadas por um requebrado mais adequado a um mestre sala de escola de samba.
Não contente, na jogada seguinte, deu um passe de letra (o que os mais antigos, como eu, chamavam de ‘chaleira’) que resultou no segundo gol, aquele que sacramentou a vitória corintiana e pôs fim aos devaneios de melhores dias para os tricolores.
Foi o suficiente para que alguns jogadores do São Paulo passassem a mirar mais o tornozelo do rapaz do que a bola. Logo os arautos do bom senso, de microfone em punho, clamaram pela substituição do incauto, pois estava sendo caçado em campo.
Fim do jogo.
Entre mortos e feridos, salvaram-se todos.
Mas, ninguém escapou à cantilena e as indagações inevitáveis a essas ocasiões.
O garoto abusado desrespeitou seus colegas de profissão, como alegou Ricardo Oliveira?
Onde fica o tal futebol-arte se um garoto talentoso não pode sequer dar um drible a mais nos adversários?
É correto os boleiros de todos os níveis e calibre passe a intimidar o craque aos trancos e pontapés?
Se Garrincha entrasse em campo, certamente não sairia vivo da peleja, dizem alguns.
A verdade, meus caros, é uma só.
Há um código de ética e comportamento para todos aqueles que entram em campo.
É bem verdade que tais normas não estão escritas em lugar algum. Nem lavradas em cartório ou registradas em tabelião.
Mas, que existem, existem.
Vale o que se sabe.
Quer fazer graça, enfeitar o pavão, dar uma ‘caneta’, um floreio, uma firula?
Beleza pura, fique à vontade, garotão.
Mas, depois segure a onda. Porque vem bordoada de todos os lados.
Podem dizer o que quiserem. Passar horas e horas discutindo o tudo e o nada.
Dentro de campo, é esta a regra que vale.
Tanto faz ser um bate-bola entre barrigudos num campo de society como uma final de Copa do Mundo.
O bicho pega, mesmo!
O resto é blábláblá…
Só para não perder a viagem, esclareço: Garrincha também era caçado em campo por ‘joãos’ de todas as idades e etnias. Só que ninguém conseguia pegar nem a bola, nem ele…
* FOTO NO BLOG: Camila Bevilacqua