É muito difícil explicar por que a gente gosta de escrever.
Explicá-lo a quem não gosta, então…
Aliás, pode o autor dar explicações a si mesmo?
Não se imagina a suprema ventura de que se há de ser lido eternamente.
Todavia, ao escrever, sente-se o escrevinhador instalado na eternidade.
O que consegue passar no alinhar de palavras lhe parece um bem absolutamente protegido.
O que há de verdadeiro nisso?
Em que medida toda esse proceder representa uma vã miragem?
Eis os questionamentos que se faz o personagem Henri logo nos primeiros capítulos do livro Os Mandarins, de Simone de Beauvoir, que ganhei do amigo Sales e que, com suas densas 800 páginas, me faz companhia neste fim de ano.
Henri é jornalista e escritor. Assim que vê Paris em liberdade após a Segunda Grande Guerra, ele se presenteia com merecidas férias em Portugal e promete a si próprio esclarecer tais reflexões durante os dias de estio.
O blogueiro não ousaria tamanha transcendência.
Mas, também tem lá suas inquietações sobre o ato de escrever – e de escrever diariamente. Imagina-se, por vezes, como se vivesse simultaneamente duas vidas – a que se vive na realidade e a que se põe a narrar aos incautos leitores.
Nem sempre há uma fina sintonia entre as duas práticas.
Enfim…
Bom mesmo é que me parece ótima a ideia de ‘merecidas férias’.
Também vou nessa…
Volto em meados de janeiro.
(Que Deus nos ilumine, inspire e guarde em 2011.)