Meus prezados,
Já dizia Nélson Rodrigues:
“O homem é sobretudo o passado. O presente pouco importa e o futuro menos ainda.”
E acrescentava:
“As coisas só tomam o seu exato valor quando evocadas. É a memória que potencializa todas as nossas experiências de vida e de futebol.”
Pois então…
Leio no Uol – e confirmo na coluna eletrônica Ooops!, de Ricardo Feltrin, que a Record vai propor um pool de emissoras para desbancar a Globo que detém a exclusividade do Campeonato Brasileiro a longos anos.
Nossos clubes, “que bóiam num lago de dívidas feito vitórias-régias (outra do Nélson), estão ávidos por uns troquinhos a mais. E veem com bons olhos a tal parceria, apesar da pressão da CBF, fechadíssima com a líder de audiência.
Mas, seria possível tal ajuntamento? – eis a pergunta que não quer calar.
É aí, caríssimos, que evoco as espirais do túnel do tempo.
Saibam os mais jovens que tal experiência já aconteceu – e com pleno êxito.
Deu-se na Copa de 70, no México – a primeira transmitida ao vivo pela TV brasileira.
O fato é que existia apenas um canal de vídeo e áudio, disponibilizado pela Televisa mexicana. Não existia a tal exclusividade – e três emissoras brasileiras se dispuseram a cobrir o Mundial.
Como fazer?
Simples.
Dividiu-se a transmissão em três tempos de 30 minutos. Locutores e comentaristas alternavam-se equanimente na narração.
Pela Band, foram Fernando Solera e Rui Viotti.
Pela então TV Tupi, Walter (“tá gordo!”) Abrahão e Geraldo Bretas.
Pela Globo, Geraldo José de Almeida e João Saldanha.
Como escrevi acima, simples – e sublime
O mais “atacado” era Geraldo José de Almeida. Bradava a todos os santos para que não entregasse o microfone ao sucessor com o Brasil em desvantagem no placar.
Quando a coisa engrossava, não tinha dúvidas. Em pleno jogo, interrompia a narração e recorria ao Senhor Supremo para livrá-lo da eventual pecha de “pé-frio”.
— Deus me livre de passar o microfone sem que o Brasil faça ao menos um gol!
Sublime lembrança…