O amigo não está nada bem.
Põe-se a lamentar que os jovens não querem nada com nada.
Tudo o que fazem é viver o tríduo pré-balada, balada e pós-balada.
Não verdade em seus relacionamentos.
São presas fáceis para monumentais enroscos que não levam a nada.
E nesse descalabro ele não faz a menor idéia do que nos reserva o futuro.
Não lhe digo nem sim nem não.
Por trás de todo esse desencanto, desconfio, está a moça que lhe prometeu vir e não veio.
Nada como um retumbante fora para nos fazer o paladino da justiça e do amor.
Ademais, não quero – e não devo – por a mão nessa cumbuca.
É bem verdade que, por vezes, estranho certos comportamentos da rapaziada.
A música, por exemplo.
Acho deplorável.
O batestaca da construção aqui ao lado é bem mais suingado do que a música que dançam. Se é que se pode chamar, aquele faniquito de dança.
Enfim…
Acho mesmo que sempre foi assim.
Lembro o dia em que o pai me surpreendeu arranhando, ao violão, um clássico dos seus tempos de juventude.
Ele ficou horrorizado com a versão rock’n’roll que fiz para “Besame Mucho”.
Ouvi poucas e boas.
À época, eu era o jovem e aquele era um bolero sagrado para o pai.
Meu Velho sempre foi um inveterado romântico – e santo, santo, ele nunca foi.
Mas, fosse qual fosse o motivo, hoje eu reconheço: ele tinha toda a razão.
Eu desafinava até na pausa para a respiração.
Quanto aos relacionamentos, como eram, como deixavam de ser, hoje não é o melhor dia para comentar.
Naqueles idos, nós, os jovens, amávamos – e como amávamos – loucamente as inalcançáveis atrizes de cinema.
Uma cena do filme me é cara, inesquecível. É do filme O Passageiro – Profissão Repórter, de Michelangelo Antonioni.
Não lembro se é a tomada final, mas é belíssima. A câmera se fixa no rosto deslumbrante da menina quase mulher que está no banco traseiro do velho carro conversível, dirigido por Jack Nicholson.
Ela volta-se para a câmera e enquanto o carro segue só o seu rosto enche a tela de sedução, malícia e mistério.
Desnecessário dizer que me apaixonei perdidamente por Maria Schneider.
Soube agora da morte da atriz.
Me sinto um tantinho viúvo dos sonhos e enroscos juvenis que não levam a nada.
Mas que, por vezes, são a essência da vida.