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Arsenal de certezas

“Um turista que por aqui passasse e lesse as nossas páginas de esportes, havia de anotar em seu caderninho: – ‘O cronista esportivo brasileiro é um gênio!’. Gênio, no mínimo, e daí para cima.”

“É o caso de se perguntar o porquê da suficiência que já seria inadmissível em um Miguel Ângelo, num Leonardo, num Goethe, num Shakespeare. Sim, de onde vem a sabedoria que o cronista se atribui, e a luz, e o gênio, e a verdade? Qualquer comentarista de esporte tem, no bolso, esquemas táticos deslumbrantes. Só ele sabe meios e modos de perfurar os mais sinistros ferrolhos argentinos, gregos, troianos, abissínios.”

“Portanto, numa época de dúvidas lancinantes, só a crônica esportiva tem um arsenal de certezas absolutas.”

* Trechos da crônica ‘Pior do que o Rosita Sofia’, publicada em O Globo em 15 de junho de 1965. De autoria do mais fulgurante de nossos cronistas esportivos, Nélson Rodrigues. Depois de acompanhar o noticiário sobre os palpitantes acontecimentos esportivos desta semana – da desclassificação do Corinthians às estréias de Ronaldinho Gaúcho e Rivaldo, busquei guarida na obra única de Nélson Rodrigues para tentar entender a exasperação dos meus colegas de trabalho. Descobri o texto acima de onde pincei alguns trechos de ‘sublime’ atualidade (para usar um dos adjetivos da preferência de Nélson).

Está mais do que na hora de a gente também baixar um tantinho a bola.

Estamos indo do céu de brigadeiro dos elogios ao dantesco inferno da crítica contumaz em segundos.

Não sei se é exatamente essa nossa função – e o quanto pesa no descontrole em determinados segmentos de torcedores.

Nota do Blog:
Esta e outras crônica de Nélson Rodrigues estão no livro A Pátria em Chuteiras – Novas Crônicas de Futebol.

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