Cenas de um shopping paulistano, na tarde de sábado:
I.
Milena, a ex de Ronaldo, passeia despreocupada com uma amiga.
Entra e sai de lojas, experimenta roupinhas etc – coisa banais de quem vai ao shopping numa tarde de sábado.
Alguns talvez a reconheçam. Mas, ninguém a perturba.
Isto não significa dizer que está imune a observações e comentários.
Como o daquele garoto ali, em torno de 12 anos, que é alertado pela mãe:
— Olha, aquela não é a Milena, a primeira mulher do Fenômeno, mãe do Ronald?
O garotão disfarça, acompanha os passos de Milena a uma distância segura e certifica-se que é ela mesma assim que ouve o comentário da amiga a lhe mostrar uma blusinha reluzente:
— Não é bonita, Mi?
“Mi” de Milena, o garoto captou a mensagem.
Só então saca o moderno celular e prepara o torpedo que pretende enviar a toda a turma:
“A Milena está no shopping. Tem um Nike “mó” legal. Aposto que foi o Ronaldo que deu."
II.
O casal de namorados adolescentes anda pra lá e pra cá pelas alamedas do shopping.
Olha vitrines, os cartazes de cinema, a ala dos brinquedos eletrônicos. Não escapa sequer a Praça de Alimentação.
Qual será o motivo da incessante busca?
O mistério permanece. Até que se ouve um “uhuhuh” de satisfação emitido pela menina.
— É aqui mesmo, mô. Vamos?
E os dois, sem dizer palavra, viram-se de costa para o cenário escolhido entre tantos e tamanhos, colam os rostinhos e esboçam um sorriso mais do que artifical. Das mãos do rapaz, surge o celular da moda. Ele estica o braço, faz o enquadramento e bate a almejada foto. Que logo em seguida os dois conferem como o mais ardente dos objetos dos desejos.
III.
Na Praça de Alimentação, marido, mulher e a filhinha de cinco anos divertem-se a degustar lanches e refrigerantes.
Em meio à festa e descontração, faz-se breve instante de silêncio à mesa.
Momento ideal para garotinha fazer o pedido irrecusável:
— Alguém aí quer falar comigo, por favor!
Prestativo que só, o pai logo saca o celular e digita o número.
Na mesma mesa, ouve-se o soar de melodiosa canção de ninar.
A sapequinha então vasculha a bolsinha cor de rosa que traz transpassada ao corpo. Pega um aparelho igualmente rosa, leva ao ouvido e diz:
— Alô, quem é?
O pai ri e lhe pergunta, como se estivesse a quilômetros de distância, se está tudo bem.
— Está sim, ela responde. – Ótimo, obrigado pela lembrança…
E conclui a ligação, no maior chamego:
— Amo você, viu, pai. Beijo. Tchau!