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O saudosista

Sou um saudosista.

É o que diz o amigo. No que falo e no que escrevo, ele ressalta na mesa do Café onde esperamos dar a hora para a primeira aula.

Está convicto do que pensa e imagina ser um alerta a este humilde escriba.

Resolvo provocá-lo. Por força do hábito e do ofício.

Jornalista dá um doce por uma boa polêmica, e negocia a travessa toda por uma boa pauta.

Replico, com ar indiferente:

— Me dê um bom motivo para não ser saudosista.

Ele já entrou nos 50; portanto, sei bem, não lida com desenvoltura com os usos e costumes da moçada. Usos e costumes que se transformam dia a dia, aliás. Sempre há uma novidade estourando por aqui e por ali. É difícil para nós, os mais rodados, habituarmos às mutantes regras do jogo.

Aproveito, enquanto ele faz cara de conteúdo, para estabelecer alguns aspectos da questão:

— Na música, Beatles. No cinema, Fellini. Nas artes em geral. Nos esportes, Pelé, Mané, Éder Jofre…

Ele desiste da resposta.

Sabe que tenho um tanto de razão em ser assim.

Afinal, ele também tem um tempo de estrada – e seguramente boas lembranças da jornada.

Mudamos de assunto no exato instante em que conferi a data estampada no calendário no espelho atrás do balcão: 7 de abril de 2011.

Lembrei: há exatos 25 anos eu desembarcava em Madri na minha primeira viagem internacional.

Indiferente ao meu devaneio e contando com a minha enganosa atenção, o amigo comentava a rodada de ontem da Copa do Brasil. Corintiano que é, criticava a soberba de Rogério Ceni na cobrança do pênalti, com cavadinha (que o goleiro do Santa Cruz defendeu).

— Isso é coisa de quem sabe: Djalminha, Marcelinho Carioca, Lôco Abreu…

Pensei em interrompê-lo para dissertar sobre minhas primeiras impressões ao perambular pela bela capital espanhola.

Desisti.

Ele iria surtar.

Me chamaria de saudosista.

E aí voltaríamos ao começo do texto…

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