Leio a manchete de O Estado de S. Paulo de hoje:
Menos de um por cento das multas que o Ibama aplica são pagas.
A reportagem é ampla, bem completa.
Não faz qualquer alusão, porém, a um fato que testemunhei há alguns anos, quando fiz reportagem na Serra da Bocaina, área de Mata Atlântica preservada no Vale do Paraíba, na região limítrofe entre São Paulo, Minas e Rio de Janeiro.
Além da exasperante beleza do lugar, chamou minha atenção os bangalôs de gente graúda – que não reside ali, mas faz da área reduto de férias e lazer. Muitos são voadores de asa delta, e têm plena consciência da preservação do verde.
Em contraponto, existem os bocaneiros – habitantes do lugar desde sempre – que praticam uma agricultura de sobrevivência.
Por isso, são seguidamente penalizados pelo pessoal do Ibama.
Essas multas – e este é o fato – estão absurdamente fora de contexto.
Primeiro, porque são altíssimas. Chegam a montantes impensáveis para a renda daquele pessoal. Nem se o caboclo trabalhar a vida toda.
Um deles me mostrou uma sanção de 5 mil reais por haver construído um ‘puxadinho’ que aumentou em alguns cômodos o ranchinho onde ele e a família moram.
Vale dizer que essas famílias nunca viveram em outro lugar. Têm baixa escolaridade, é verdade. Mas, entendem como ninguém o ecossistema do lugar.
Um deles me disse – e consta da reportagem:
http://www.rodolfomartino.com.br/artigo.php?id_artigo=3
— Não entendo os homens do Ibama. Pensam que vamos destruir tudo: sujar a água dos rios, derrubar as árvores, acabar com o palmito. Nós, que vivemos aqui, só sabemos viver do que essa terra nos dá.
“Não tem cabimento”, diz e conclui:
— Minha família está aqui antes das terras virarem parque. Para ser sincero, somos os primeiros a querer preservar a mata. Só plantamos o que é para a gente comer – e para alguma troca. A gente também faz um queijo e cuida do gado. É pouco, mas dá para ir levando. Nada que possa prejudicar o local onde a gente vive e onde os filhos da gente vão viver.