Para Chico Anysio, que hoje completa 80 anos.
***
Houve uma época – ali pelos anos 80 – que o jornal em que eu trabalhava em São Paulo ganhou um colunista ilustre: Chico Anysio.
Não tivemos a honra de dividir aquele modesto espaço com o humorista.
Mas, todas as quartas-feiras, nós, repórteres e redatores, disputávamos a honra – e o deleite – de receber, das mãos do editor, o envelope pardo que continha, dentro dele, o divertido texto, vindo diretamente da Editora Rocco, no Rio de Janeiro.
Era nossa tarefa editá-lo – e encaminhá-lo, em seguida, para o diagramador.
Não tínhamos trabalho.
O texto era irrepreensível.
Vinha como mandava o figurino da diagramação da época: 40 linhas de 70 toques.
Anysio é um hábil contador de causos.
Desde então já editou algo em torno de 15 livros – e, ao que consta, tem outra dezena prestes a ser editado.
Certa tarde, chegou a notícia que o homem viria a São Paulo para lançamento de livro ou show. A chefia nos informou que o jornal fora convidado para agendar um horário para entrevistá-lo.
Ficamos eufóricos.
Não é todo o dia que se entrevista um gênio.
Estabeleceu-se uma silenciosa disputa entre nós.
Nada que o editor não percebesse – e, por conta e risco, resolvesse a questão de primeira.
No dia e hora aprazados pela assessoria de Chico, lá foi ele próprio – editor – para o encontro.
Voltou encantado – e fez uma bela reportagem, reconheço.
Nunca o perdoamos por isso.
Mas, entendemos.
Se um de nós estivesse no seu lugar, tomaria a mesma e salomônica decisão.