Se o ‘pedante Google’ Daniel Piza me permite, eu também quero falar do novo filme de Woody Allen.
Fascinante.
Até porque também já me perdi pelos becos e vielas de Paris.
Diria que é uma sensação única, mesmo algo atarantado e sem acesso ao túnel do tempo.
Para os românticos, inesquecível.
Repito, então, para que duvidas não pairem:
“Meia Noite em Paris” é fascinante.
II.
Logo às primeiras cenas somos abduzidos pela Paris que o cineasta retrata em primorosa sequência de imagens diurnas e noturnas ao som dolente de Sidney Bechet.
Imediata também se faz a identificação com o personagem central, o roteirista e aspirante a escritor Gil Pender (magnificamente interpretado por Owen Wilson).
Qual de nós, não está à procura de sua Era de Ouro?
III.
Ele encarna o alter ego do próprio Allen visto e revisto em tantas obras – sonhador, algo indeciso e atrapalhado, prestes a embarcar em uma vida convencionalmente bem-sucedida; mas instado a aventurar-se por uma trajetória fantasiosa e delicadamente romântica.
Também encontramos o chato de galocha, o doutor sabe-tudo, para fazer o contraponto aos devaneios do protagonista, além de uma série de outras personagens que temos a impressão de já conhecer de outras películas allenianas: a dondoca frívola, o perdulário casal de milionários e o grande mentor.
Papel aqui reservado para ninguém menos que o escritor Ernest Hemingway, mestre em patacoadas e frases de efeito.
IV.
O que permeia todo o enredo é a fina observação do cineasta sobre os conflitos existenciais – fúteis ou não – de todos nós. Mesmo quando transfere as inquietações e os devaneios do personagem, magicamente, sem nenhum efeito especial, para a Paris dos anos 20 e lá encontra a nata de escritores e artistas que fizeram a chamada Era de Ouro – Hemingway, Scott e Zelda Fitzgerald, Picasso, Matisse, Salvador Dali, Buñel, Man Ray, Gertrude Stein, entre outros.
Vale sempre lembrar: em qualquer tempo, Paris é sempre deslumbrante, perfeita como cenário para uma sensível trama de amor.
De quebra, ainda temos a primeira-dama francesa Carla Bruni – sim, ela mesmo –a interpretar uma bucólica guia de turismo.
Uma sofisticação, digna da engenhosidade do cineasta.
V.
É bem possível que, ao longo dos 100 minutos do filme, o espectador se sinta a caminhar pela Cidade Luz – e imagine, assim como Gil Pender, nunca mais viver em outro lugar.
Aliás – e para encerrar – assim como ele, eu particular e modestamente acho Paris mais bonita nas tardes de chuva, seja qual for a época.
** NOTA DO BLOGUEIRO – O jornalista Daniel Piza escreveu um alentado artigo sobre o filme em sua coluna de hoje em O Estado de S.Paulo em que define “como foram bobas em geral as resenhas sobre o filme”. Vai daí que resolvi correr o risco…