Concordo que não é tempo de se promover uma desnecessária caça às bruxas, acusar esse ou aquele, procurar culpados. Afinal, pelo que se viu, todos perdemos a chance de ser tetra. Particularmente, no entanto, gostaria de fazer uma breve – mas, indispensável – ressalva. Esse pessoal que nos representou no Mundial de 82 é, sem dúvida, o que há de melhor. E fez o que pode, o que estava ao alcance de cada um. Só que eles não são tão perfeitos como decantou nossa imprensa. Têm falhas – e graves. Na verdade, desde o Mundial de 70, nossos jogadores não chegam a se completar como craques – campeões – e por uma série de razões. A principal delas é o endeusamento precoce que dirigentes, torcedores e sobretudo a imprensa esportiva logo promovem quando surge alguém acima da média. Não raras vezes bastam um ou dois jogos para o tal ser citado como o novo Pelé, ganhar manchetes e páginas inteiras sobre sua vida e seu futuro. Daí logo se descobre que ele pode gravar um disco, virar garoto propaganda, ser pastor de uma nova religião etc.
Claro que, com tantos interesses em jogo, com tantos milhões rolando em meio a tanto oba-oba, fica difícil para o indivíduo, de repente, entender-se como um simples atleta. Que ele depende de seus músculos e de seu empenho para vencer – e que a vitória nunca está garantida antes dos 90 minutos regulamentares.
5 de julho de 1982. Segunda-feira de triste memória, a Pátria descalçou a chuteiras. E, por momentos, vestiu-se de luto.
* Trecho da crônica “Sarriá”, publicada no jornal Gazeta do Ipiranga, após a implacável derrota da seleção brasileira para a Itália e que nos alijou da Copa da Espanha. Vinte e nove anos depois, sete copas e apenas dois títulos conquistados, dá para entender que qualquer coincidência é mera semelhança.
** Crônica está no livro “Às Margens Plácidas do Ipiranga”, lançado em 1997.