O que leva a moça a desfilar, para lá e para cá, em sumários trajes pelas arquibancadas de um estádio de futebol repleto de – em sua maioria – marmanjos?
Se, daqui onde estou, bem vejo, ela está de biquíni e botas e traz um agasalho verde-e-branco estrategicamente amarrado na cintura para – imagino – cobrir a ‘preferência nacional’.
“É a Juju, do Pânico na TV”, diz o rapaz ao meu lado.
Só então reparo que a tal se faz acompanhar de uma equipe de ‘batedores’ que penso incluir seguranças, câmera-man, produtores, meia-dúzia de fotógrafos e um bando de rapazes empolgados que acompanham a distinta comitiva.
Alguns ganham beijos no rosto.
A maioria, com as indefectíveis câmeras digitais, querem mesmo uma foto como troféu.
Sou um homem simples, do Cambuci, que nada sei da nada.
Mas, me esforço para entender a vida e os amores.
Frequento estádio desde moleque, e a cena me é inusitada. E a traquilidade da turba também.
Mesmo assim melhor ficar a uma distância segura.
Em outros tempos, sei lá o que tal cena poderia gerar.
Qualquer moçoila, por mais vestida e baranga que estivesse e fosse, era generosamente aclamada pela massa:
— Gostosa, gostosa, gostosa…
É certo que a moça (a das antigas) corria certo risco, inclusive de ficar mal falada.
É certo também que levantava a autoestima de qualquer uma.
Ando nostálgico, é bem verdade.
Não sei o que dizer, nem o que pensar.
Bem ao contrário do rapaz ao meu lado que resolve por ordem no coreto:
— Calma, rapaziada. Sem ilusões Vamos ver o jogo e deixar a moça em paz. Logo, logo ela arruma um Dentinho da vida, vai morar na Ucrânia e vocês ficam só no ora vejam…
Sábias palavras para um fim de tarde ensolarado no Canindé, onde Palmeiras e Gremio empataram em 0 a 0.