El, el, el…
Quem diria?
Um dia, o Kléber foi da Fiel.
No embalo rocambolesco da notícia – e antes que me acusem de vira-casaca – vou confessar.
Eu também, lá no mais antigo dos anos, deixei de torcer pelo Palmeiras.
Devia ter uns cinco ou seis anos, e o outrora Periquitinho Verde tomou uma espanada do São Paulo – 5×0.
No dia seguinte, o pai me levou cortar cabelo em um barbeiro são-paulino, o Sr. João.
Detestava ir ao barbeiro por dois motivos.
O primeiro é que à época os garotos usavam uma franjinha tão bizarra quanto o corte do Ronaldo na Copa de 2002. Alguém lembra?
O segundo, e mais doído, é que se usava para raspar a cabeça uma máquina manual que, vira-e-mexe, por falta de óleo ou de destreza do operador, fazia os chamados “caminho de rato”, além de mordiscar o cocuruto da gente, o que causava uma dor chatinha, chatinha.
Naquele fim de tarde, o Sr. João estava eufórico.
Fazia mil e um gracejos sobre o timeco do Parque Antártica e o quanto sofriam, vida afora, seus pobres torcedores.
Entre uma e outra piada, era inevitável um ou outro beliscão.
Não tive alternativa, meus caros.
Chorei.
Chorei feito bezerro desmamado, como se dizia à época.
Quanto mais eu me debulhava em lágrimas, mais Sr. João brincava com a minha dor – a da alma (pela derrota do meu querido time) e a da cabeça (pelos estragos doídos que a máquina desdentada provocava).
Mesmo antes de terminar o martírio, decidi que trocaria de time.
O Sr. João ficou feliz, acalmou-se – e foi logo perguntando:
— Então, Tchinim, vais virar Tricolor?
Topei na hora.
Por alguns dias, torci para o Fluminense que, afinal, também era verde, branco (como o Palmeiras) e vermelho (como a bandeira da Itália) e um goleiro chamado Castilho que eu adorava ver nas resenhas do Canal 100.
* Conferi no Google: o jogo foi no Pacaembu, em dia 10 de novembro de 1956. Estava prestes a completar seis anos.