Dona Yolanda continua indignada.
Tem lá suas razões.
(Mãe tem sempre razão, então nem ouso discordar.)
Diz que eu transformei nossa conversa de ontem em “historinha” – o os tais cinco ou seis leitores que eu apregoo ter podem ficar com uma impressão errada do que ela disse.
Como jornalista, ela me acusa de só olhar a superfície das coisas, o aspecto mais imediatista da notícia, esquecendo a essência de tudo.
E o que é a essência de tudo, pergunto.
“A essência de tudo, filho, é a simplicidade. O que nem sempre é visível no primeiro momento”.
Ela explica:
— Quem chega à minha idade com saúde, qualquer gesto, qualquer ato é uma festa, uma conquista. Receber a atenção dos filhos e dos netos, colecionar bisnetos, estar juntos dos seus. Ir à padaria, ao açougue… Ao supermercado, então, equivale a uma ida ao shopping center para os mais jovens. São nesses lugares, nas filas, que encontramos os conhecidos, batemos papo, dizemos olá, como vai. Recebemos o carinho das moças que nos atendem e que perguntam como está a nossa saúde, a nossa pressão, se estamos felizes. Esses pequenos cuidados e atenção enchem de alegria o nosso dia.
Para Dona Yolanda, os idosos chegam cedo, antes do banco abrir, e formam aquelas imensas filas, para serem atendidos logo. Certo? Também, mas não só. Faz parte da rotina de vida dos aposentados o rito da conversa. Além de degustarem o passar do tempo, são nessas rodas que se discute de tudo e mais um pouco. Quando se fazem presentes com seus pitacos nas decisões desse tal mundo que agora chamamos de global.
— Eu sei que banco já não é um lugar dos mais seguros. Agora, vocês deixam a coisa ainda mais perigosa quando ficam anunciando e anunciando que a primeira parcela do décimo terceiro dos aposentados estará disponível em setembro.
E conclui:
– Vocês, jornalistas, nem deviam gastar tanto tempo com isso. Deviam, sim, cobrar o governo para aumentar o nosso benefício. Até porque o que ganhamos é uma merreca que nem vale tanto estardalhaço…