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O oco do mundo

Deve ser coisa minha.

“Na idade em que estou aparecem os tiques, as manias”.

Mas, meus caros cinco ou seis fiéis leitores já reparam em uma característica personagem dos nossos tempos: a figura que chega a um encontro – pessoal ou profissional – previamente marcado com a desculpa pronta, na ponta da língua, para se safar do apontamento.

Vai logo avisando ao(s) interlocutor(es) que tem um compromisso em seguida e não pode dar o ar da sua imensa graça ali por menos do que alguns minutos.

Talvez quem sabe outro dia, outra hora, com mais vagar, possa conversar mais amiúde ou tocar aquela reunião tranqüilamente. Também acha importante, e tal; mas, hoje, naquele momento, impossível.

Sempre há um imprevisto, uma causa emergencial.

Dá para imaginar que mesmo o tal imprevisto (ao qual deve atender em seguida) deverá será postergado da mesma forma, pois um terceiro imprevisto anulará a importância do segundo.

E vida que segue.

Vamos assim de quase encontros, de tudo certo nada resolvido, tocando e seguindo em frente, meio que flanando na superfície das coisas, do oco do mundo.

Gostam de culpar as redes sociais.

— Te vejo no facebook.

— Vou tuitar para você.

Dizem até vivemos tempos de sentimentos liquefeitos, de amores vãos.

O “eterno enquanto dure”, que o Poetinha consagrou, nunca durou tão pouco.

Pode ser.

Prefiro lembrar outro poeta, Gilberto Gil, e o verso de uma de suas canções:

“Os meninos são todos sãos.
Os pecados são todos meus.”

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