A repórter Zileide Silva foi convidada a falar sobre jornalismo político e internacional no XXXIV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, realizado de 2 a 6 de setembro em Recife. Em 2001, a jornalista estava locada em Nova York, na sucursal da Globo, empresa em que trabalha ainda hoje. Ela participou in-loco da cobertura dos atentados de “11 de Setembro”; portanto, seria relevante para a platéia da PUC de Pernambuco – formada predominantemente por estudantes de jornalismo – ouvir o relato de quem esteve em ação na cobertura de um dos mais relevantes episódios de nossa História recente.
No transcorrer da palestra, a jornalista resolveu, por conta e risco – ela própria causar algumas ‘explosões’. Foi peremptória ao afirmar que não vê sentido em quem quer ser jornalista se graduar em jornalismo. E que considera o médico Drauzio Varella o melhor repórter do Brasil.
Houve quem comparasse a fala a um ato de terror. Tamanho perereco causou no auditório e mesmo entre os pares com quem a repórter (jornalista por formação e diploma) dividia a mesa.
II.
Não é de hoje que a legitimidade do diploma universitário em Jornalismo gera polêmicas sem fim.
Que, diga-se a bem da verdade, o STF cuidou de banalizar.
Há quem entenda o jornalismo como um dom, um talento.
Outros o veem como um ofício que se aprende, sim, na universidade e se apura na lida diária, no calor da fornalha.
Enfim…
Vida que segue.
III.
A coluna prefere, sim, ressaltar nesse domingo a citação a Drauzio Varella.
Não o considero um repórter.
Mas, sim, um médico extraordinário. Que amplia sua atuação para além do consultório ou da sala de aula ou mesmo dos veículos de comunicação para os quais colabora.
É um notável humanista.
Um grande escritor – e um cronista do porte de um Rubem Braga, de um Joel Silveira, os tais que escreviam como se estivessem diante de nós, falando com a gente.
IV.
Veja o trecho do texto que o médico escreveu sobre a morte de um dileto amigo em sua coluna na Folha de S. Paulo, de 13 de agosto:
“Depois da perda da saúde, a face mais dura do envelhecimento é conviver com o desaparecimento dos personagens que construíram nossa história. Não importa quantos amigos íntimos tenhamos, cada um deles é insubstituível, os que ficam não preenchem o vazio deixado pelo que se ausentou. Alguém já comparou essa situação à de uma floresta em que cada árvore que desaba abre uma clareira. Você poderá dizer que nela nascerão outras. É verdade, mas levarão tempo para crescer; até se tornarem frondosas e acolhedoras, talvez não estejamos mais aqui.”
V.
Por fim, e para não deixar de comentar a data, digo:
]
Dez anos depois, entendo o “11 de Setembro” como o ápice de uma série de descalabros sociais.
Por vias outras, totalmente inversas e condenáveis, os atentados causaram – desconfio – estragos no seio da Humanidade semelhantes ao da gigantesca árvore que tomba.
Levará um tempo para que o mundo recupere uma ordem harmônica, justa e solidária.
Talvez não estejamos mais aqui.