Os funcionários dos Correios entram em greve, sem prazo para voltar ao trabalho.
Têm lá seus motivos, creio.
No entanto, hoje, a paralisação não assumirá as proporções de antanho.
II.
Fossem outros os tempos – e os corações desesperados dos apaixonados distantes se desesperariam ainda mais.
Como enviar à doce amada, notícias das saudades sentidas, falar do vazio que causara a frugal separação e dizer do imenso amor, com retoques dos versos esparramados, cuidadosamente roubados de algum poeta desconhecido?
O telefone servia para quebrar o galho. Ouvir a voz, dar o recado.
Mas, era no papel em branco em que se rasgava o coração, dilaceravam-se os sentimentos e os desejos eram embalados.
III.
O poeta Fernando Pessoa (pelo heterônimo Álvaro Campos) escreveu:
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
(…)
Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
(…)
IV.
Sinais dos tempos.
Hoje, com a informação minuto a minuto, as redes sociais, o facebook, os motoboys e os torpedos, nossa vidinha vai ficar um tanto mais atrapalhada nesses dias. Aquela fatura do cartão pode não chegar, a multa de trânsito, o DVD do Woody Allen que encomendamos no Submarino, imprevistos desse porte.
Nada mais.
V.
Por isso, pensem bem, jovens poetas, seresteiros e namorados, não há qualquer motivo para, mesmo longe, passar um dia sequer sem dizer:
– Eu te amo!