O senhor de pele queimada pelo sol chama a atenção pelas portentosas costeletas quase até os cantos da boca. São grisalhas e revoltas, como a cabeleira longa e em desalinho que exibe.
Se bem entendo, chama-se Onofre e, sem que eu lhe peça, me conta da prova automobilística que houve em plena avenida beira-mar, onde estamos para ver o entardecer em Havana.
Ele e todos os cubanos a chamam de Malecón.
Tem os olhos úmidos, emocionados ao narrar a tragédia.
Um dos competidores perdeu o controle do seu bólido – e avançou sobre a multidão.
Um turbilhão de gente sendo jogada para todos os lados.
Triste dia.
Morreram 12 espectadores.
O piloto foi resgatado e levado ao hospital sobre o capô de outro competidor.
Diz que sobreviveu ao grave ferimento, mas não tem certeza.
Aliás, ele próprio, no meio do tumulto, não sabe como escapou.
— Quando isto aconteceu, pergunto curioso e suspeitando da veracidade da história de Onofre.
Benze-se contrito ao lembrar o episódio, como se tivesse acontecido ontem.
E me diz, indiferente:
— Foi em 1956.