“É sempre bom lembrar que lá um dia fomos jovens e tínhamos claros ideais de luta pela redemocratização do País e pela construção de uma sociedade justa, fraterna e, utopia das utopias, igualitária. Onde todos teriam voz e vez e viveriam com um mínimo de dignidade. O fardo dos anos vividos e a sinuosidade do caminho, nem sempre planificado para os nossos trôpegos passos, acabaram por dilapidar nossos sonhos mais luminosos, mais verdadeiros. Ficaram à margem do caminho por um descuido qualquer, por necessidades outras ou mesmo pelo que se convencionou chamar de pressa da vida moderna”.
II.
“O escândalo dos títulos públicos, que ora domina os noticiário nacional e a todos causa indignação, mostra o quanto ainda estamos longe do que se quer como ideal. Um País democrático, com instituições fortes e uma máquina administrativa ágil, enxuta e que permita claramente a transparência de seus atos e realizações”.
III.
“Convenhamos: os olhos e o pensar do Brazil das elites parecem cada vez mais distantes do verdadeiro Brasil de todos nós”.
IV.
“Ainda nos anos 70, ouvi do jornalista Mino Carta o alerta para o beco sem saída que caminhava nossa sociedade, mercê de uma elite dominante absolutamente insensível às necessidades e anseios de nossa gente. Desde então, estaríamos a forjar uma legião de desvalidos, sem perspectiva de futuro, sem eira nem beira, que promoveria uma verdadeira guerrilha urbana, longe das ideologias, dos sonhos e de conceitos insofismáveis de justiça e fraternidade. Uma guerrilha sem bandeira, sem causa, que a todos iria atingir sem qualquer escrúpulo. Será que já não estamos vivendo esse caos social, preconizado pelo insigne jornalista”.
(Trechos da coluna Caro Leitor que escrevi, de 1979 a 2003, no jornal Gazeta do Ipiranga, semanário paulistano de distribuição gratuita que, à época, tinha uma tiragem de 60 mil exemplares. Estou preparando uma coletânea desses escritos – e alguns trechos – como os que selecionei acima me chamaram a atenção pela triste atualidade.)