Faltam poucos minutos para as seis.
O homem desperta com o ronco do motor de algum veículo apressado que corta a avenida onde se situa o prédio em que mora. Resolve, então, sair da cama e, pela janela, espiar o dia – ainda noite, por conta do horário de verão.
–Quando é que acaba mesmo?
Pergunta por perguntar. Não se atém à resposta.
Lá fora, vê um céu que permanece escuro – mas, nada ameaçador.
Luzes artificiais dão um tom de poesia às ruas vazias, de chão molhado pela chuva que, nem percebeu, caiu silenciosa hora antes.
Vez ou outra, um ou outro automóvel cumpre a sina de entrar e sair do seu raio de visão. Parecem carrinhos de brinquedo, de tão minúsculos que se mostram pela distância do apartamento onde está, no décimo nono andar.
Houve um tempo em que ele acordava todas as madrugadas – por volta das três e meia, quatro horas. Um sabiá laranjeira fazia uma cantoria danada. Pensou que algum vizinho de alma pequena houvera aprisionado o bichinho em uma gaiola – tamanha tristeza expressavam aqueles gorjeios. Soube depois, pelo zelador que um bando de pássaros habitava os galhos do frondoso Pinheiro do Paraná que é a atração do jardim do prédio.
Ficou aliviado – e feliz pelos bons modos da vizinhança.
Nem tudo está perdido, disse, na ocasião, para si mesmo.
— Nem tudo está perdido, repete agora
Apura os ouvidos para tentar descobrir algum pio.
Nada.
Nada de nada.
Olha, então, para a árvore, vê a folhagem úmida.
Admira suas firmeza e solenidade na espera pelo raiar do novo dia.
Tem consciência de que este é um momento raro, de paz e serenidade. Para ambos.
Resolve voltar para a cama, pois hoje é domingo e ninguém é de ferro.
Curioso. Não se sente mais tão só…