Confiro o índice do blog.
Não escrevi uma linha sequer sobre o caso Eloá, em outubro de 2008.
Fiquei fora por alguns dias, naquele período.
Viajei – e, desconfio, perdi o mote.
Não tenho certeza que foi assim.
Talvez propositalmente, à época, preferisse ficar distante da tragédia anunciada.
Puxo pela memória. Continua a dúvida.
Há certos fatos que não se consegue explicar, sem que se fique descrente com a miséria da condição humana.
Revelam-se estúpidos, insanos, absurdos.
Lembro, no entanto, que presenciei, na ocasião, algumas acirradas discussões entre meus pares na Universidade e mesmo, em algumas aulas, com os estudantes de Jornalismo.
Tomei partido muitas vezes.
Particularmente, considerei um descomunal exagero o tratamento que a mídia deu ao assunto.
A tal cobertura em tempo real atropelou qualquer controle, qualquer critério de apuração.
Houve repórter entrevistando o sequestrador, via celular, sem cerimônia, como se fosse “mano”.
Mas, não foi só.
Predominou o que os especialistas em Comunicação chamam de espetacularização da notícia. Como se o público assistisse a um reality show, ao vivo, em cores – e, lamentamos depois, sem final feliz.
Confesso que o mesmo temor me assalta agora ao ver a cobertura jornalística sobre o julgamento do suposto assassino. Há uma tendência em transformar as pessoas envolvidas no processo em personagens quase ficcionais. Percebe-se uma hiper exposição deste, daquele e daquel’outro.
Nos veículos impressos, nos portais, nos telejornais, pipocam imagens das novas “celebridades”.
Na novela das oito, acostumamo-nos a ver e nos divertir com as atrocidades da protagonista. Um tanto atrapalhada e falastrona, quase sempre se dá mal. Assim exorcizamos nossas aflições e instintos. No fim, todos sabemos, vai dar Pereirão na cabeça.
Na vida real, não é assim.
Quer dizer, é muito pior.
Com a tendência, cada vez mais presente no jornalismo, de dramatizar um fato real (que é torpe, e incontestável), corremos o risco de ver o bandido se transformar em vítima, e vice-versa.
Toda a sociedade perde com essa confusão.
E não é função da Imprensa confundir – e, sim, esclarecer.