S., estudante de pós graduação em jornalismo, me pergunta se sei “algo sobre um tal de Retrato do Brasil?”
Alguma coisa, alguma coisa, respondo a ele.
Era uma publicação de esquerda, como se dizia então, em meados dos anos 80.
Foi criado no embalo das experiências de outras publicações de então, que haviam desaparecido por força das circunstâncias (como os alternativos “Movimento” e “Opinião”) e/ou por falta de apoio publicitário (como o Jornal da República).
Tinha como editor-chefe o experiente Raimundo Pereira, além de um time de colaboradores de primeiríssima – Mino Carta, Elifas Andreatto, Eurico Andrade, Fernando Morais, Flavio Andrade, Hélio Bicudo, Luiz Gonzaga Belluzo, Nirlando Beirão e Raimundo Faoro.
Detalhe. Eram todos sócio-fundadores.
Era, portanto, uma iniciativa de jornalistas e intelectuais não satisfeitos com o conservadorismo da chamada grande imprensa, numa época em que o Brasil vivia o incandescente período de redemocratização.
Aliás, era esta a pedra de toque do projeto:
“Um novo jornal para um novo Brasil.”
A proposta editorial era toda voltada para a ampla e irrestrita defesa dos preceitos democráticos.
Era compacto – circulava com 12 páginas, em média –, eminentemente noticioso e analítico, refletindo o momento de transição que marcou o fim do regime militar.
O jornal causou certo agito quando lançou uma coleção de fascículos que explicavam alguns temas políticos e sociais do momento. Só o que abordou aspectos da Constituição vendeu em torno de 3 milhões de exemplares, notável sucesso editorial.
Circulou pela primeira vez em 7 de outubro de 1986 – e lamentavelmente teve vida curta.
A redação era em São Paulo – em um sobrado, ali na Nestor Pestana, em frente ao Teatro Cultura Artística.