(A história dos talkshows na TV brasileira)
VI.
Não é exagero dizer que o Programa Ferreira Neto consolidou o fim de noite como um bom horário para o gênero talkshow. Reproduzia basicamente o cenário de mesa para o entrevistador e sofá para o entrevistado que Jô consagrou anos depois.
Com ampla experiência como jornalista e passagens por diversos jornais e emissoras de rádio e de TV, Ferreira Neto consolidou sua carreira como colunista de TV, com auge no jornal Folha da Tarde.
Na TV, seu programa aproveitou os ares da redemocratização para dar ênfase ao debate político, tão em voga à época; mas não se limitou à área. Entrevistou também personalidades de diversos segmentos, especialmente do mundo de entretenimento.
Tinha uma boa média de audiência para o horário, mas o ponto forte era o caráter de formador de opinião. Houve momentos que ser entrevistado por Ferreira Neto era sinal de prestígio, de ter o que dizer.
O jornalista levou tão a sério essa fama que cometeu um grave deslize.
Contrariou as orientações do Tribunal Regional Eleitoral, e entrevistou o então candidato a presidente, Fernando Collor de Melo, na quarta-feira anterior ao pleito do segundo turno, em dezembro de 1989.
Tal iniciativa – sem dar o direito de reciprocidade ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva – foi entendida como um claro apoio a Collor.
Não foi o único, é certo.
Mas, a bem da verdade, começou aí a derrocada do programa. Ferreira Neto ficou estigmatizado – e gradativamente foi perdendo espaço na TV. O programa, que já havia passado por diversos canais, foi perdendo público e terminou seus dias – depois contínuas interrupções – na grade vespertina de sábado, na TV Mulher.
Ferreira Neto tentou voos políticos, lançando-se como candidato ao Senado. Mas, não obteve êxito.
VII.
Vale registrar – até para fechar redondo esse passeio pelos descaminhos da História da TV – que o Jô Soares – Onze Meia ganhou força na cobertura do dia-a-dia do impeachment de Fernando Collor.
Jô acompanhou o passo a passo do debate político, com célebres entrevistas.
É certo que o fato de estar no SBT ajudou – e muito – na linha editorial que o programa deu à questão.
Na Globo, as temáticas políticas são mais monitoradas.
Aliás, é o grande diferencial de Jô Soares hoje: é mais um talkshow de variedades. Trabalha, sobretudo, com atrações da casa (ontem, por exemplo, a principal entrevista trouxe o ator Rodrigo Lombardi, autores de livros e anônimos excêntricos.
A política ocupa um plano secundário.
Para este ano, retorna o quadro As Meninas do Jô, com a participação de jornalistas/celebridades em um debate bem-humorado com Jô Soares como mediador.
Enfim, vamos conferir…