Há tempos uma renúncia não alcançava tanta repercussão em plagas nativas, como a que foi anunciada nesta segunda (12) por Ricardo Teixeira [que esteve à frente da CBF por 23 anos].
Abalou geral.
Desconfio que em termos história recente só perde mesmo para a do então presidente do Brasil, Jânio Quadros, em agosto de 1961. Até porque a esperta renúncia de outro presidente, Fernando Collor, ainda hoje é tratada como impeachment.
Saltou fora antes o defenestrassem do poder.
Pode-se dizer que aconteceu algo semelhante com Teixeira.
Voou para Miami – e só depois o sucessor, José Maria Marin, anunciou a desistência
Vem aí – espera-se ansiosamente – um novo tempo para o desporto nacional.
Antes, porém, é preciso ter clareza que há um longo caminho a ser percorrido na construção da almejada nova era.
O alerta e os processos continuam…
II.
No dia seguinte ao dia seguinte da renúncia, paira uma sensação de ressaca.
Parece que nada mudou no futebol do País do Futebol.
O Corinthians joga pela Libertadores, com os nervos à flor da pele.
O Palmeiras estreia na Copa do Brasil, em Alagoas – e tudo pode acontecer.
O Flamengo ameaça contratar – e recuperar – Adriano, o Imperador.
O empresário usa os jornais para defender – e valorizar – o passe da jovem promessa.
Neymar e Ronaldo são as celebridades do anúncio da operadora de celular na TV.
O Congresso cogita aprovar a Lei Geral da Copa.
O Ministério Público Federal vai investigar o ex-presidente do Brasiliense, Luiz Estevão, por lavagem de dinheiro [no período de 2001 a 2005].
E o técnico da seleção perde uma boa oportunidade de ficar calado [ao dizer que Neymar precisa se transferir para a Europa].
Ou seja, repito: há um longo caminho a ser percorrido na construção da almejada nova era.
III.
Vale registrar – e aplaudir – o trabalho do jornalista Juca Kfouri ao longo de todos esses anos. Não há como lhe negar o mérito e os propósitos na luta pela transparência dos negócios da CBF. Outros profissionais e alguns veículos também tiveram papel preponderante no episódio. Louve-se! Mas, a ação de Juca foi referência e se transforma hoje em capítulo importante na história do jornalismo brasileiro.
Não foi tão simples assim, diga-se.
À época das primeiras denúncias de improbidade na CBF, Juca tinha status de diretor na Abril e era comentarista da TV Globo. Na primeira, trabalhou por 25 anos; na segunda, completaria 14.
Abriu mão das duas empresas – e da zona de conforto de salários compensadores – para inventar novos espaços como profissional e consolidar a carreira em perfeita sintonia com os pilares do bom jornalismo: o respeito à verdade factual e às funções crítica e fiscalizadora.
Um belíssimo exemplo para a rapaziada que sonha trilhar o caminho do jornalismo esportivo.