“Como é que é escrever todos os dias?”
Já ouvi a questão não sei quantas vezes.
Hoje, de novo.
II.
Há quem ainda se impressione com a suposta capacidade do cronista/blogueiro de “inventar” histórias.
Eis a questão?
Não criamos nada do nada, creiam.
Como diz o lindíssimo samba de Paulinho da Viola, as coisas estão no mundo.
É nosso ofício relatá-las.
III.
Talvez exageremos aqui.
Enfeitemos o pavão ali.
Imaginemos coisinhas acolá.
Mas, a função do escrivinhador é essa mesma.
Dar um tantinho de cor aos fatos nossos de cada dia.
O jornalismo por natureza é cético, contundente.
“Só existe Imprensa de oposição. O resto é armazém de secos e molhados”, ensinou Millôr.
O espaço da crônica (e do blog) permite a emoção e o olhar mais alongado para o detalhe que passa despercebido dos rigores da pauta e da reportagem.
IV.
Não há uma receita adequada para o cronista/blogueiro abastecer-se de histórias.
Cada um cada um.
Eu, por exemplo, gasto um tempo danado no fim de semana a reler jornais e revistas para separar prováveis assuntos que posso vir a repercutir no blog.
Empilho os tais e os quais.
Agora, por exemplo, tenho uma pancada de referências para falar do centenário do Santos Futebol Clube que se comemora nesta semana.
V.
Passou a segunda, passou a terça – e hoje, quando estava buscando o abre para o post, descubro nos jornais o título do novo filme da Camila Pitanga – “Eu receberia as piores notícias do seus lindos lábios”.
Fiquei encantado.
Bateu uma saudável invejinha.
Gostaria de ter escrito uma crônica com esse título.
Como seria o texto?
Óbvio que inspirar-se na Camila é sempre interessante…
Estava nesse lusco-fusco – e a tela em branco a desafiar-me.
Eis que surge a moça, de tez morena e alguma malícia na voz, e faz a pergunta supra citada.
Esqueço logo as artimanhas de Pelé & Cia.
Imagino estar diante de Camila …
E respondo à moça já moldando o texto que agora estou a lhes escrever.