Conheço Erundina de outros carnavais.
Dos tempos em que ela inaugurou o sambódromo.
Não somos amigos, nem próximos.
Só acompanhei como jornalista o dia-a-dia de sua administração à frente da Prefeitura de São Paulo entre 1989 e 1993.
Eu era editor de Gazeta do Ipiranga – e o bairro passava por um momento de transformações urbanas e sociais.
Além de um trânsito caótico, havia o secular problema das enchentes e a explosão demográfica da Favela de Heliópolis.
Luiza Erundina era uma prefeita presente. Interessada e rigorosa em seus procedimentos.
Bastasse uma simples suspeita de algum ato ilícito na então Administração Regional, funcionários eram afastados e implementava-se uma investigação.
Certa ocasião, motivada pela inauguração de um melhoramento público, Luiz Erundina visitou a área onde seria o túnel do Complexo Viário Maria Maluf, que ainda não tinha esse nome, óbvio. Uma comitiva de repórteres de rádio, TV e jornal a acompanhou na vistoria.
A prefeita mal desceu do carro e foi saudada pelo espocar de fogos de artifícios e uma penca de correligionários portando faixas e cartazes de boas vindas. Dois ou três vereadores comandavam a manifestação, de olhos atentos nos dividendos eleitorais que tal obra poderia lhes dar.
Antes mesmo de tomar o microfone para o pronunciamento de praxe, Erundina perguntou aos edis o que estavam fazendo ali. Se não havia sessão na Câmara Municipal, onde os três se fariam mais úteis à cidade.
Isso na frente de todos os repórteres, dos correligionários e cousa e lousa.
O gesto foi de uma naturalidade ímpar.
Por isso, não estranhei a renúncia de ontem. Quando ela abriu mão de ser v ice na chapa de Haddad pelo explícito apoio de Paulo Maluf à candidatura do petista.
Erundina não tolerou a foto nos jornais, reunindo os três pimpões sorridente, como se fossem parceiros de tantas e tantas gloriosas jornadas.
Há limites para tudo nessa vida. Especialmente quando se trata de ética, coerência e bem comum.
Erundina que o diga…
Aliás, seu exemplo fala por nós.