Sr. Armando. Era assim que o conhecíamos – e, reverentes, ouvíamos falar dele na velha redação de pisos assoalhados e grandes janelas para a rua Bom Pastor.
Vivíamos os difíceis tempos do arbítrio, e os jornais de bairro desempenhavam função relevante na reorganização social da Grande São Paulo e na chamada redemocratização do País.
Era uma postura imperceptível aos olhos dos senhores do Poder e mesmo de significativa parcela da “intelligentzia” nativa. Mas, era uma proposta efetiva, creiam, em prol de se fundear as bases do comunitarismo e de uma avançada consciência de cidadania.
À época, toda e qualquer manifestação popular – mesmo a mera organização de um clube de serviço ou de uma sociedade de amigos do bairro – era rechaçada pela ditadura como uma ameaça à ordem pública e nociva aos interesses da Nação.
Os jornais de bairro deram voz e vez ao munícipe, ao homem comum, em seus mais legítimos anseios por uma melhor qualidade de vida.
Foi na luta por um equipamento público, por uma melhoria urbana, que o paulistano resgatou, pouco a pouco, o senso de luta social e de “um por todos, todos por um”.
Até pela minha história de vida, sempre que posso, saliento e valorizo os pioneiros do jornalismo setorial: Antônio de Oliveira Marques, Araci Bueno, José Jofre Soares (Gazeta do Ipiranga), Hirão Tessari (Gazeta da Vila Prudente), Durval Quintiliano (Gazeta de Pinheiros), Ari Silva (Gazeta da Zona Norte), entre outros.
Hoje, faço esse registro em razão de uma triste notícia que só ontem recebi.
Um desses visionários, o jornalista Armando da Silva Prado Neto, faleceu no último dia 30, aos 81 anos. Armando fundou a Gazeta de Santo Amaro, e foi seu diretor por 52 anos. Entre outros feitos, a redação do jornal, comandada por Armando, abriu as portas do jornalismo para os notáveis Ricardo Kotscho e Rolf Kuntz, que ali tiveram seu primeiro emprego.
Deixo aqui meu reconhecimento, e minha saudade.