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O adeus ao Princípe do Samba

Idos de 1976 ou 77.

Começava minha carreira como repórter na área de Cultura, cobria os lançamentos de música popular brasileira.

Adorava o que fazia.

A cada semana entrevistava dois ou três nomes de realce do nosso cancioneiro.

Imaginei que nunca sairia dessa área.

Além de receber o suplemento do mês de cada gravadora, ainda era convidado para o show de apresentação das novas canções.

De quebra ficava próximo dos caras que faziam a melhor música popular do mundo.

Numa tarde ensolarada, recebi a incumbência de entrevistar Roberto Silva, chamado de “o Príncipe dos Sambistas” que estava reaparecendo para o mundo artístico, depois de anos de discreto anonimato, com o disco “Roberto Silva Interpreta Geraldo Pereira, Haroldo Lobo e Seus Parceiros”.

Reparem a bola dividida.

Não havia Google à época.

Conhecia muito pouco da obra de Roberto Silva. Que ele lembrava o jeito de Orlando Silva nas interpretações. Que havia influenciado João Gilberto e Paulinho da Viola e, de quebra, era um dos ídolos do meu cunhado Valtinho que, vira e mexe, cantarolava uma seleção de sambas sincopados como “Escurinho” e “Da Cor do Pecado”, entre outros.

Como não havia celular à época para consultar o cunhadão, parti com a cara e a coragem para os estúdios da gravadora Continental (ou seria Copacabana), onde seria a coletiva.

Na presença do cantor, não foi preciso mais do que alguns segundos para que os repórteres se sentissem à vontade – e que não haveria histórico que, por melhor que fosse, explicasse aquele senhor de 56 anos.

Roberto Silva parecia ter saído do túnel do tempo.

Falava dos tempos em que o Rio ainda era a “Belacap”. Lembrava a exuberância da Rádio Nacional e as rodas de amigos/artistas daquela época de ouro.

Falava de forma natural, sem preciosismos, nem melancolia.

Era um homem fiel ao seu tempo e, sobretudo, à sua obra.

Aliás, homenagear os amigos Haroldo Lobo e Geraldo Pereira era o único motivo para retornar aos estúdios.

— Vale o prazer de cantar e lembrar sambas e amigos memoráveis.

*Roberto Silva morreu ontem aos 92 anos, no Rio de Janeiro, que tanto amava.

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