Escova é um amigo que há tempos não via.
É brincalhão. Gosta de desencavar casos de conquistas e enroscos que acumulou vida afora, e que lhe valeram o apelido de Don Juan das quebradas do mundaréu.
Quase sempre se diz inocente, que não queria e coisa e tal, mas que elas tanto que insistiram que ele acabava cedendo no final.
Me lembra um pouco o personagem Tonico Bastos, da novela Gabriela.
Eu o encontrei ontem por acaso nas imediações da Estação Sacoman do Metrô.
Disse-me que procurava um boteco para afogar as mágoas e afastar a saudade incrível dos tempos em que trabalhávamos na velha redação de piso assoalhado e grandes janelas para a rua Bom Pastor. Por essa época, fazíamos ponto ali, em um sujinho, que existia na esquina da rua Greenfeld, onde o Sacoman torce o rabo e começa o Ipiranga.
— Bons tempos. Bons tempos…
Topei acompanhá-lo por alguns minutos, já sabendo que viria história.
Antes, porém, quis provocá-lo e perguntei para onde iríamos, já que o nosso antigo point agora se transformou em cenário para o vaivém do paulistano apressado em busca de condução.
— Quem diria, exclamei.
Escova preferiu fugir a qualquer divagação. Foi determinado na logística.
— Entramos no primeiro que aparecer. Não era assim que fazíamos em tempos idos. A gente saía sem rumo, de bar em bar…
Nem esperei que terminasse a frase.
— O que fechamos de boteco noite adentro, hein, camarada. Éramos sem noção.
— Éramos jovens e sonhadores, continuou Escova, antes de pedir a cerveja e o steinhaeger, de praxe.
Ofereceu o primeiro gole ao santo, em reverência aos amigos que se foram.
E se pôs em silêncio.
Não lembrou a Fulana, não imaginou nua a Sicrana, nem lamentou a última que se foi sem sequer lhe enviar um torpedo pelo celular.
(Escova é coroa, mas gosta de umas modernidades.)
Não contou história, nem botou banca de ‘pegador’.
Ficou na sua, e eu na minha.
Ambos imersos na sombria lembrança das coisas que se perderam.