– Patrão bom nasce morto!
A frase ecoava forte, solene na velha redação assoalhada, onde comecei meus dias de repórter.
Quem a dizia em tom solene, professoral era o velho Zé Jofre. À época, devia andar pelos 60 e lhe eram inconfundíveis o sotaque cearence e a crueza com que tratava a vida.
Não poupava quem estava no poder.
Socialista, dedicara os anos da juventude à luta em prol da causa.
Começou como gráfico, passou pelo jornalismo e, quando o conheci, era chefe do Departamento de Distribuição do jornal. A ditadura o afastara da reportagem e dos textos. Era mais seguro “esconder-se” num cargo administrativo.
Para a alegria dos mais jovens, era presença diária na redação. Bebíamos da sua fonte. Ele, em contrapartida, nos espicaçava – especialmente, a mim, estudante de jornalismo da USP, filho de operário e ‘revoltadinho’ por natureza.
— Você é um burguesinho alienado…
* Trecho da crônica “A lição do Zé Jofre”, do livro Meus Caros amigos – Crônicas Sobre Jornalistas, Boêmios e Paixões, que lancei em 2010, mas que ainda pode ser encontrado nas boas casas do ramo e em alguns sites especializados.
O livro reúne histórias das redações de jornais em tempos idos e vividos. Faz também uma sincera homenagem aos amigos com os quais pude compartilhar momentos inesquecíveis, de sonhos e utopias.
À noite, naquele Sujinho da vida, contávamos nossas prosas. E reclamávamos – ah! como reclamávamos – de tudo e de todos. No dia seguinte, de cara lavada e alma aventureira, lá estávamos para começar tudo de novo. Com a mesma saudável insanidade, marca registrada dos jornalistas de então.
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O blogueiro tira uns dias de estio.
Volto pra semana…