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Ó do borogodó…

A expressão “ó do borogodó” desapareceu das nossas conversas diárias.

Quando comecei no jornalismo, era uma das favoritas do meu primeiro editor, Tonico Marques, para manifestar seu espanto diante de um fato ou de alguém, cuja ação nos remetia a algo próximo ao absurdo, ao fim de linha.

Hoje, desconfio, a moçada prefere dizer “sem noção”.

II.

Pois então…

Ó do borogodó ou sem noção, tanto faz.

Chame como quiser essa história da escolha dos vencedores do prêmio literário Jabuti, talvez o mais importante do segmento em plagas nativas.

Leio nos jornais que, na edição deste ano, um dos jurados fez avaliações severas, com notas baixíssimas a vários livros participantes, para supostamente privilegiar a obra que, por fim, acabou saindo vitoriosa, “Nihonjin”, do estreante Oscar Nakasato.

Há certo malestar nas lides literárias com a situação.

III.

Outro parceiro da velha redação de piso assoalhado, o amigo Escova, diz que o expediente não é tão novo assim. Lembra-me, inclusive, que ele próprio já aprontou algo parecido em tempos idos.

Era repórter e foi designado para a cobertura de uma Festa do Havaí, tradicional evento anual do Clube Atlético Ypiranga.

Na empolgação de ver a reportagem ganhar destaque, os organizadores – a dupla Dida e Haroldo – resolveram fazer um agrado ao jornalista e convidá-lo para ser jurado na escolha da Garota do Havaí.

IV.

Escova, codinome dom Juan das Quebradas do Sacomã, gostou da ideia.

Aceitou a doce incumbência.

Arquitetou um plano, porém.

Escolheu uma das moçoilas para o abate. E jogou o cascatol.

“Você será a rainha noite, a mais bela da festa, a garota do Havaí, a mulher da minha vida, o que você quiser.”

A simpática se fez de tímida.

— Quem sou eu. Só estou participando por participar.

V.

Na hora do desfile, ciente das suas mais lascivas intenções, fez a trapaça.

Deu notas baixíssimas as candidatas de maior potencial – e dez para a escolhida em todos os itens.

VI.

Após a apuração dos votos, o resultado foi o esperado por Escova.

Ao receber a faixa e a coroa, a moça sorriu toda-toda para o repórter. Que, óbvio, não se fez rogado…

Foi para o abate.

VII.

Perguntei se teve sucesso na investida?

Escova fez a cara do Tufãon da novela que se foi e mudou o rumo da conversa:

— Que saudades do Marques, da rotina do jornal, do saudoso Dida, do Haroldo que não sei onde anda, das festas do Ypiranga… É, meu caro, tem vez que a vida não vai além do ó do borogodó, seja lá o que isso quer dizer…

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