Gosto da frase:
“O passado passou.”
Não é sempre que damos a devida atenção à verdade tão absoluta.
“O passado passou.”
Vale para registro histórico, e só.
Vale como lição de vida.
O tempo, meus caros, não para no porto.
Não apita na curva.
Não espera ninguém…
Seja aquele momento profissional brilhante quando o Tal mandava prender e mandava soltar na empresa. Seja para aquela moça que, (in)certo dia, chegou, olhou, sorriu, encantou. E em outro se foi, deixando um rastro de sonhos e desejos.
II.
Escova, personagem comum de nossas crônicas, andava cabisbaixo e triste pelos cantos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor.
Nós, os colegas de trabalho e de reportagens, já estávamos acostumados a tal situação. Sempre acontecia quando o nosso dom Juan das quebradas do Sacomã tomava algum vaivém das tantas quantas mulheres, com as quais ele se envolvia – e como se envolvia!
Não tínhamos certeza. Mas éramos capazes de jurar que o nome de tamanho banzo atendia pelo nome de Juli, a nova estagiária.
Escova, para não perder o costume, andava rodeando a moça, cheio de más intenções. Mas, ela não estava nem aí.
Até que um dia, por um desses casos do acaso, Escova e Juli se encontraram à saída do jornal.
Ele entusiasmou-se com a (in)feliz coincidência. E partiu para o ataque com decisão.
Quer dizer, ele imaginou partir para o tudo ou nada.
Juli foi bem mais rápida e sagaz que o velho Escova e, em uma frase, acabou com seus sonhos e esperanças:
— Este é o Vitor.
E mais não disse por que nada mais foi preciso dizer.
Escova olhou o garotão à sua frente – e desatinou.
Era o ‘namoradão’ da moça
Escova percebeu que estava a ano-luz daquela realidade.
E que o tempo é mesmo implacável…
III.
Quando lhe perguntamos a razão do desconsolo, o amigo foi sincero:
— Então, ela me apresentou o Vitor.
Ficamos sinceramente solidários ao fora que o Escova levou. Tão solidários que adotamos a frase como bordão para situações irreversíveis.
Quando caía uma pauta, a foto desfocava, o texto capengava, o salário atrasava, alguém sempre lembrava de dizer – no mínimo, para encerrar o assunto:
– Então, ela me apresentou o Vitor…