“O melhor lugar do mundo é aqui e agora”
Chama a minha atenção a frase, da dolente “Aqui e Agora” de Gilberto Gil, a ornamentar a porta de aço de uma pequena loja em uma das ruas centrais da área antiga de Cannes.
Sei lá o que vende ali, pois o estabelecimento está fechado naquela manhã de domingo que andei por lá, no começo deste mês.
Estico os olhos e dou conta da placa que anuncia o nome do estabelecimento. Está grafado Borboleta em letras ovaladas e coloridas.
Não sei bem o porquê. Mas, leio um tanto de saudade estampada naquela fachada que se completa com a imagem de uma bela mulher ao sol, de óculos escuros.
Intuo que brasileiro(s) deva(m) ser seu(s) proprietário(s).
Não me passa pela cabeça outra possibilidade, pois logo a seguir me ponho a imaginar como viveria um patrício naquelas paragens distantes.
Como lidaria com o frio gélido desta época do ano?
E com o provincianismo do lugar?
(No fundo, Cannes e todas as pequenas cidades francesas da Cotê D’Azur não passam de charmosos balneários – uns mais, outros menos. E não há nenhum demérito nisso.)
Como é falar e pensar em francês?
Será que ele vai à praia (sempre modestas; algumas com pedregulhos no lugar de areia) ou prefere andar pelo calçadão da orla de prédios classudos e vista para o Mediterrâneo sem fim?
Aliás, sempre que viajo esta questão me é recorrente.
Como seria se eu aqui vivesse?
Há sempre um olhar generoso para os usos e costumes do lugar.
Sobra-me a sensação de que não precisaria de tantas coisas para ser feliz ali.
Bastar-me-ia o essencial, imagino:
Um bom lugar para morar, e alguns trocados para comer, vestir e, vez ou outra, viajar para conhecer para outros recantos. Afinal, na Europa, tudo é tão pertinho. Viajar de trem é bem legal. As estradas são boas…
Justificativas não faltam para ficar.
Faltam a grana, um bom naco de desprendimento e, principalmente, o medo danado de acordar com uma baita saudade do Brasil que, apesar de todos os pesares, continua fazendo jus aos versos do baiano Gil:
“O melhor lugar do mundo é aqui e agora.”