Quando era garoto – na São Paulo dos anos 50 – ouvia os italianos amigos do pai , emocionados, definir saudade como um sentimento tão intenso que a palavra só deveria ser pronunciada no plural.
Mesmo amando o Brasil, a turma do Bar Astória ‘morria’ de saudades da terra de onde vieram.
“O sole mio sta’nfronte a te…”
Eles cantavam e, entre uma cerveja e outra, choravam feito criança…
Também por aquela época fazia sucesso uma dolente canção, interpretada por Elizeth Cardoso. Chama-se “Canção de Amor” – e vez outra ainda a ouço pela aí, na voz de Caetano Veloso.
Os autores Chocolate e Elano de Paula assim definiam esse nostálgico vazio:
“Saudade
Torrente de Paixão
Emoção diferente.
Que aniquila a vida da gente
Uma dor que não sei
De onde vem”
Já era crescidinho – uns vinte e poucos anos, quando conheci – também em canção, agora de Nélson Cavaquinho – uma versão mais pungente para esse sentimento entre a melancolia e a tristeza.
Beth Carvalho cantou para as então novas gerações “Quando Eu Me Chamar Saudade”:
“Sei que amanhã
Quando eu morrer
Os meus amigos vão dizer
Que eu tinha um bom coração”
Ali pela década de 80, eu já era um cara vivido – ou ao menos, me imaginava assim. Achei magnífico um dos versos da sacudida “Namoradeira”, cantada por Cláudio Zolli e de autoria de Ronaldo Barcellos.
“Quando a vida me iluminou
A minha luz
Era você”
Achei o máximo, e caí na besteira de comentar com os amigos da velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor. Fui zoado por algum tempo.
— O que você está sentindo tem nome, cara. Chama-se saudade – fechou questão o grande Nasci, mestre e conselheiro de todos nós.
Como de hábito, ele tinha toda razão.
Ontem, numa conversa informal, alguém me perguntou se a palavra saudade só existia no plural.
Desconfio ter feito cara de espectador do Café Filosófico.
Lembrei essas e outras histórias e pessoas – e me bateu uma baita saudade(s) de mim…