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O cartaz

TRAGO O SEU AMOR
DE VOLTA EM 3 DIAS
Tel: *********

Agradeço aos Céus sempre que vejo um anúncio desses, colado aos postes de iluminação pública seja qual for a cidade brasileira.

Sim, porque já vi esses cartazes em diversos pontos do País.

Não direi do Oiapoque ao Chuí porque minhas andanças não deram para tanto. Mas, que os tais são comuns, mesmo o mais desligado dos meus cinco ou seis amáveis leitores há de convir comigo.

Basta puxar pela memória – e se lembrará de alguma mensagem no gênero.

Mas, de volta ao começo, repito – e esclareço: agradeço aos Céus por não precisar dessa oportuna ajuda do Além.

(Toc, toc, toc… Vale isolar na madeira, pois nunca se sabe o dia de amanhã nesses confins dos sentimentos).

Porque, vamos considerar, o malandro-otário precisa estar pra lá de desesperado para apegar-se a tal mandinga.

Imagino a cena.

Ele paga a sessão, sai do consultório da pitonisa, olha o relógio – e se põe a contar os minutos. Olhos atentos ao visor do celular. Confere as horas, o tempo que falta e a possibilidade de despencar um torpedo, uma chamada…

O coração só no baticum. Salta pela boca.

Os amigos o convidam para o futebol do fim de semana, para a roda de chopps, o churrasco, o que for.

Ele desconversa. Diz que precisa por o trabalho em dia, inventa uma desculpa qualquer para ficar de prontidão à espera da amada que ele acredita – e só ele acredita – ainda o ama e quer bem e logo vai reconsiderar tudo o que lhe disse e voltará arrependida…

Então serão felizes para sempre.

A senhora do turbante falou que será assim, e assim será.

Noites aflitas, manhãs tortuosas, horas que se arrastam.

Um, dois…

Prestes a vencer o prazo final do terceiro dia. Ele insone, barba por fazer, olhos vermelhos – enfim, ouve o redentor toque do celular.

É ela.

Atende, diz alô.

É o fim do sofrimento. Valeu o mico de ficar expondo sua vida e suas dores para uma desconhecida, com pinta de charlatã. Arrepende-se de não ter dobrado o pagamento da senhora. Nem gorgeta, ele lhe deu…

‘E, ó, ela resolveu minha vida’, pensava enquanto, do outro lado, a voz da amada se fazia música:

— Então, pensei muito em você nosm últimos dias. Pensei em nós. Não devia ter saído da casa assim tão desesperada, tão às pressas…

Sentiu-se a dois passos do paraíso.

Não sabia o que dizer.

Tinha que ser firme – estava tão emocionado que ficou com medo de chorar ao telefone.

Por sorte (ou azar), a moça continuou falando:

— Então, saí tão apressada que esqueci meu passaporte na gaveta do criado mudo. Faz um baita favor pra mim. Deixa na portaria, que pego logo mais à tardinha. Não que eu não queira lhe ver. Nada disso. É que embarco amanhã para os Estados Unidos – vou passar uma temporada grande por lá, sabe? E detesto cenas despedidas. São tão tristes…

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