Entre tantas e tamanhas platitudes que são permitidas a um homem velho, está a de poder dizer que viveu muito. Não se interpõe aqui nenhum juízo de valor. Não significa dizer, por exemplo, que viveu “muito bem” ou “muito mal”.
Entre tantas e tamanhas, repito, é a simples constatação que está há bom tempo nessa longa estrada da vida – e que, se teve olhos de ver e ouvidos de ouvir, presenciou fatos marcantes da história recente da humanidade.
Outra certeza que se tem é a de que um dos indicadores dessa, digamos, proeza é relacioná-la ao número de vezes que o cidadão parou diante da TV – ou lá na década de 50, do rádio – para se certificar da cor da fumaça que saiu da chaminé da Capela Sistina.
No meu caso, prezados e amáveis cinco ou seis leitores, confesso que demorei um tantinho para por a casa e as ideias em ordem, sem recorrer ao Google.
Vamos lá:
Pio XII,
Paulo VI,
João XXIII,
João Paulo I,
João Paulo II,
Bento XVI
e agora…
Francisco.
Lá nos antigamente, por ocasião desses momentos de transição, era presente, nas conversas e discussões, o inefável magistério extraordinário da “infalibilidade papal”. Para nós, temerosos cidadãos, a coisa toda soava assim como “o papa não erra, pois recebera o dom de ser o representante de Deus entre os homens”.
A Igreja era uma instituição divina, coesa, intocável. Ao menos, parecia ser.
Ou muito me engano – e não é raro que isso aconteça –, mas nesse período que precedeu à escolha de Francisco, o argentino, – e mesmo depois dela – uma das questões mais discutidas foi (e é) a inadiável transformação da Santa Madre diante das modernidades do mundo atual.
Há dúvidas sobre o posicionamento do novo pontífice sobre as demandas que se apresentam – casamento gay, evasão de fiéis, como conciliar as diversas alas, a aproximação das questões sociais e do meio ambiente etc etc etc.
Ou seja, a Igreja está mais pés no chão.
Não é preciso ser um estudioso das coisas do Vaticano para saber que, entre tantas e tamanhas, sempre foi mais ou menos assim. Só não era midiática e globalizadamente assim…
Talvez fossem meus olhos de menino que estudava em colégio marista que, impressionado, a tudo assistia. A mãe dizia que o papa, fosse qual fosse, era “um santo homem”. Talvez fossemos, todos, mais ingênuos. Talvez…
Aliás, uma das poucas certezas que o homem velho adquire no decorrer da vida é a de que não tem certeza de nada.