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Serena (2)

VI.

Vou lhes dizer com sinceridade.

Não achava graça nenhuma nessa história, nem nas que, a partir dela, se sucediam. Com um tempero, digamos, bem mais caliente. O pessoal da redação era bem criativo em tais circunstâncias.

Pobre de quem caísse na roda das brincadeiras e zoações.

Aliás, tínhamos uma praxe de nunca estar entre os primeiros a deixar a turma. Sabíamos de antemão que, em nossa ausência, seríamos o alvo das gozações.

Registre-se que, não raras vezes, tamanhos eram os detalhes com que recheavam a trama que, por fim, essas invenções ganhavam contornos de verdades absolutas e, como dizia aquele ministro, imexíveis.

Particularmente, não achava justo com a elegância de Serena.

VII.

Nunca soube ao certo se Serena tomou conhecimento desses desafortunados comentários.

Ela sempre se manteve distante do diz-que-diz. Indiferente – e bela – professava aos quatro quantos, e quando necessário, que dedicava toda sua vida aos ditames religiosos, à doutrina, seu bem maior.

Certa manhã, soubemos com o pessoal do RH que a misteriosa Serena demitira-se, pois pensava em casar breve, breve.

E precisava de tempo para preparar a cerimônia.

Mais do que normal. A rotina do jornal era aquela mesmo. Um entra e sai danado de gente.

VIII.

Não quero terminar a crônica pousando de santo, não.

Preciso lhes dizer que outro a não concordar com o malfadado falatório era o Escova, o nobre Escova, solerte repórter, tido e havido como o Dom Juan das Quebradas do Sacomã, grande Escova.

Ele mesmo, sempre tão cheio de histórias e lero-leros. Teve um procedimento de impecável discrição quando o assunto Serena entrava em discussão.

Aliás, o amigo vivia um momento diferente àquela época.

Chegava antes do que todo mundo na redação. Não nos acompanhava mais em nossas esticadas noites adentro.

Havia até quem o chamasse, em tom de provocação, de Escova, o Puro.

IX.

Alguns diziam que ele havia sido enquadrado pela patroa, a Dona Encrenca, tamanho era o zelo com que se comportava.

Para completar o quadro, era comum ‘os perdidos’ de Escova em algumas tardes que, segundo ele argumentava para a chefia, eram necessários para desenvolver uma pauta especial sobre o avanço das novas e excêntricas seitas no Brasil, especialmente na região do Grande Ipiranga.

Enfim…

*Amanhã continua…

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