Digamos que me senti assim…
… um Cid Moreira.
Hoje pela manhã, antes do dia clarear, levei a Dona Yolanda ao Posto Médico, aqui, perto de casa. Ela se queixava de uma intermitente dor na nuca a inspirar os cuidados necessários e imediatos a uma senhorinha de 89 anos.
Pois não é que, assim que cheguei ao PM, fui reconhecido pelo porteiro que simpaticamente me cumprimentou:
– Bom dia. O senhor não é do Ipiranga? Quer dizer, do jornal do Ipiranga. Eu gostava muito de ler os seus artigos. Precisa de ajuda?
Precisar não precisava. Dona Yolanda caminhava lenta, mas firmemente, apesar das aflições.
Mesmo assim, demorei alguns segundos para confirmar, algo encabulado, que era (sou) eu mesmo o RCM e agradeci a lembrança, enquanto ele me abria, educado que só, a porta do atendimento.
Minha mãe estava tão angustiada com as dores que, desconfio, nem se ligou na minha conversa com o antigo leitor.
Como sei?
Ora, se ela tivesse ouvido, estaríamos lá até agora a dissertar sobre as bobagens que eu escrevo.
Mãe é mãe, mesmo com dorzinha.
Entregue aos cuidados médicos, voltei à recepção e encontrei o homem de saída. Seis da manhã, já dera a hora de seu turno. Mas, que eu me tranqüilizasse: fosse o que fosse a senhora teria o melhor dos atendimentos – ele havia nos recomendado aos médicos de plantão.
Teve tempo ainda de me dizer que morou 30 anos no bairro histórico, tempo aproximado de minha estada na velha redação de piso assoalhado de Gazeta do Ipiranga.
Foi um tempo bom, inesquecível mesmo. Fizemos um trabalho legal, cidadão, como só e acontecer em um jornal de bairro. Também ganhei grandes amigos,
tão inesquecíveis quanto.
Saí do jornal em 2003. Mas, querem saber, penso que o jornal nunca saiu de mim.
Que me perdoem a imodéstia, mas sinceramente – e mesmo que por alguns instantes – gostei de me sentir assim… um Cid Moreira.
Um adendo:
Dona Yolanda já está em casa, firme e forte. Desconfio que só queria mesmo um tantinho de atenção.