Aproveito a manha ensolarada para saber das novidades de um sebo perto de casa.
Há tempos não o visitava.
Não é um desses estabelecimentos grandiosos, mas por vezes são nesses pequenos locais que se faz a grande descoberta. Foi ali, por exemplo, que encontrei um exemplar de Grãos de Mostarda, do cronista Humberto Campos, editado por W.M.Jackson Inc (Editores). Não consegui localizar o ano da publicação, mas é bem antiguinho.
Os proprietários já me conhecem – e são sempre simpáticos, e solícitos.
II.
Logo que entrei, eu os percebi calados, com o semblante de preocupação. Que tentaram disfarçar ao me ver entrar cheio das intensões.
Perguntaram-me sobre a vendagem dos meus livros – e eu lhes respondi com um balançar de cabeça.
— Assim, assim, disse em seguida.
(O que significa pouco ou quase nada.).
III.
A proprietária tentou esticar o assunto.
“O senhor precisa escrever sobre vampiros – é o que essa meninada procura. Crônicas e contos, ninguém procura”.
Sorri agradecido pelo conselho. Logo me imaginei escrevendo uma história surreal, misturando dentuços, morcegos, capas esvoaçantes com forro vermelho, caixões seculares, cadáveres insepultos, cemitérios e princesas lívidas e virginais.
– Não é minha praia, respondi. – Ou melhor, minha cripta.
Tirante as princesas lívidas e virginais, nada daquela listagem me interessa.
*Amanhã continua…