E tem aquela história de que a vida de Frank Sinatra seria um suplício ainda maior, se houvesse as tais redes sociais, no tempo em que a belíssima Ava Gardner o deixou. E quase pôs fim ao seu reinado e à brilhante carreira. (Que dizem só se realinhou após o auxílio da máfia.)
Como é sabido – e foi amplamente noticiado à época – Ava acabou por conhecer o toureiro Dominguin num set de filmagem na Espanha e deu um sonoro tchau e bênção para Sinatra (que ficara cuidando de suas canções nos Estados Unidos).
Dizem os biógrafos (ô raça, não é à toa que o Roberto Carlos, o Sinatra tupiniquim, quer acabar com ela) que o cara despencou das nuvens. Ficou numa fossa tão grande que varria o chão com os cílios.
Há inclusive que comente que The Voice só não gravou o “Melô do Corno”, do saudoso Reginaldo Rossi, por que a música ainda não havia sido composta.
Também por que não existia um similar ao You Tube do futuro que ele pudesse prospectar versos tão impactantes (e bem de acordo com o que vivia então) como “me deixe aqui no chão”.
II.
Foi um fuá.
O homem cancelava shows, faltava em gravações, não usava mais gravata, não alinhava minimamente a peruca à calva e cuidava só de esvaziar um garrafa de Jack Daniel’s atrás da outra.
Ficava horas pendurado ao telefone a tentar uma ligação para a Espanha à espera de notícias.
E a Diva nem aí pra ele.
III.
Não havia telefone móvel, o popular celular. Mas, se houvesse, dá para imaginar a cena: o grande Frank a fuçar, minuto a minuto, o whats, impaciente, corroído pela dor, querendo saber por onde a moça andava.
Ó dúvida:
Por que ela não está online?
IV.
De repente os acordes de “New York New York” anunciam que alguém quer falar com ele no celular que não existia. Sinatra corre para atender – e não é Ava.
É o amigo gozador, Sammy Dave Jr. Ele quer saber que babado é aquele no twiter de Frank – por que ele postou aqueles versos?
“Ive got you under my skin
Ive got you deep in the heart of me
So deep in my heart, that youre really a part of me
Ive got you under my skin”
Sammy pergunta se pode encaminhar essa doçura poética ao compositor Cole Porter.
Quem sabe não dava uma boa música?
V.
Sammy termina a ligação com um sorriso debochado.
Frank não gosta de se sentir o otário da turma. Corre para o tablet e acessa o Face Book e vê que Ava, orgulhosa do feito do novo amor, posta uma foto do touro que Dominguin derrubou impiedosamente na ensolarada tarde de domingo.
Olé! (eis a legenda)
Neste momento, chega o parceiro de longa data, o ítalo-americano Dean Martin, que se aproxima de Frank e compartilha a imagem: o tourão estrebuchado no chão da arena, rabo entre as pernas, chifre volumoso e inútil.
Dean é amigo, mas não resiste a provocação:
“Está se olhando no espelho, amigo?”
(Só mesmo a máfia para salvá-lo do fundo do poço.)