As notícias de ontem deram um tom de tristeza ao domingo ensolarado.
Nem o clima de véspera de Copa, a expectativa da última rodada do Brasileirão antes da parada para o Mundial ou a expectativa de um bom programa no fim de semana quebraram o luto pela divulgação das mortes do jornalista Maurício Torres, da TV Record, e de Marinho Chagas, o lateral do Botafogo e da seleção brasileira de 1974. Para arredondar o clima fúnebre, leio em O Estado a coluna de Ugo Giorgetti que reverencia a memória de Joel de Camargo, quarto-zagueiro do Santos de Pelé e reserva da histórica seleção de 70.
Difícil para qualquer um – mesmo aqueles não o conheceram – entender a morte prematura do jornalista aos 43 anos. Lembro que, quando Torres trocou a segurança de uma Globo pelo desafio da Record, alguns elogiaram a coragem de buscar um caminho próprio, muito pessoal, dentro deste competitivo mundo da narração esportiva. Outros não entenderam – eu achei bonito, como sempre acho bonito e ousado o gesto daqueles que vão além do óbvio. E ousadamente tomam para si o próprio destino, seja pessoal, seja profissional.
Marinho Chagas foi um craque além do seu tempo. Diria que foi o precursor dos alas; hoje tão em voga no futebol atual. Zagueiro lateral esquerdo, assim eram chamados até o surgimento de Marinho, eram basicamente marcadores. Bons de bola como Djalma Santos, Carlos Alberto (estes pela direita) e mesmo a Enciclopédia, Nilton Santos, vez ou outra, aventuravam-se para além da linha do meio-de-campo. Mesmo assim, raramente se mandavam em desabalada carreira e dribles até a linha de fundo (Até porque nessa época quem ocupava esse espaço eram os pontas autênticos). Marinho ignorou essa regra. Sabia jogar com a bola no pé e dava um toque de fantasia e encantamento aos jogos.
Não foi lá muito bem compreendido. Assim como o elegante Joel Camargo, quarto zagueiro de fino trato. Evitava os chutões ao léu, raramente dava um carrinho ou mesmo cometia falta. Joel era um dos titulares da seleção brasileira nas Eliminatórias para a Copa de 70. Antes mesmo de assumir o escrete, o então técnico João Saldanha já o escalou como absoluto na zaga. Era uma das “feras” de Saldanha. Com a troca de comando, Zagallo preferiu a sobriedade de Wilson Piazza, um volante deslocado para a quarta-zaga. Joel ficou como terceira opção. Diz o cineasta e colunista Ugo Giorgetti que, ao que parece, Joel não assimilou a reserva. Tanto que após a Copa de 70 nunca mais foi o mesmo, mesmo no Santos ou em outras agremiações menores onde encerrou sua carreira.
Tempos atrás, em dificuldades financeiras, não teve dúvida em por à venda a medalha da Copa de 70. Não jogou, não se considerava, portanto, campeão.
Joel morreu na sexta, dia 23.